terça-feira, 10 de setembro de 2024

ARTE SENSORIAL

9ºANO 
TERCEIRO TRIMESTRE 2024

ARTE SENSORIAL
PROCESSOS DE CRIAÇÃO / MATERIALIDADE


"... quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis."
(Ítalo Calvino, 1990b. Seis propostas para o novo milênio)

"E o anjo no trono: Só tens de escolher de que poço queres beber, indicando-lhe dois poços iguais que se abrem na praça deserta. Basta olhar-se para o jovem para compreender que ele se sente novamente perdido. A potência coroada agora brande uma balança e uma espada, atributos do anjo que vela sobre as decisões e os equilíbrios, do alto da constelação da Libra. Será, pois, que também na cidade do Tudo só se é admitido por meio de uma escolha e de uma recusa, aceitando uma parte e renunciando ao resto? (...) dois caminhos distintos que se abrem para quem ainda está a procura de si mesmo: O caminho das paixões, que é sempre uma via de fato, agressiva, de cortes nítidos, e o caminho da sabedoria, que requer reflexão e um lento aprendizado." 
(Ítalo Calvino, 1991. O castelo dos destinos cruzados)



O que esta por trás da arte sensorial?

A arte sensorial, o que é e para quem?
A arte sensorial é a arte que envolve os sentidos, ora, o olhar não é um sentido? Sim, claro que é. Mas a arte sensorial no sentido amplo, baseia-se na concepção de que a experiência artística pode ir e vai além da contemplação passiva somente de um aspecto da obra de arte; i.e., vai além do aspecto visual.


Obras sensoriais são produções em tela ou qualquer outro suporte, onde a obra é feita em alto relevo com o objetivo de atender especificamente as pessoas com deficiência visual. São poucos detalhes, mas com uma amplitude de significados. Por conta disso, as obras não podem ser muito abstratas; devem ser o mais concreto possível, oferecendo sentido por meio do toque (tato). (oestadoonline).

A arte sensorial busca romper barreiras entre a obra de arte, o artista e o público, convidando o espectador a se envolver e interagir de forma ativa, tanto na produção quanto na interpretação e nas sensações que o objeto de arte propõe.
Através da imersão do corpo e dos sentidos, a arte sensorial proporciona um espaço para a exploração individual e a descoberta de novas perspectivas.

Arte sensorial (1)

A arte sensorial se insere na Arte contemporânea e redefine-a, uma vez que propõe a  interação ativa do observador/fruidor e do objeto de arte. Ela amplia os limites da expressão artística, permitindo que o indivíduo expectador/fruidor, se torne parte integrante da obra, torne-se, coautor. Ao envolver os sentidos, a arte sensorial cria uma experiência completa e pessoal, redefinindo a relação entre artista, obra e público. Nesse momento o expectador e a obra (a ideia do artista) são uma única entidade.

A arte sensorial é múltipla, multicultural, histórica, aborda as mais diversas tecnologias, desde as mais simples às mais complexas e elaboradas (desde o desenho até a arte digital e computacional) e rompe com materiais considerado históricos, nobres ou tradicionais.

A arte deve carregar olhares e proposições colocadas pelos artistas da atualidade relacionando com a vida cotidiana, social, cultural e romper assuntos e questões, convidando o espectador às mais diversas interpretações, olhares, significados, coautoria e experiências (Souza, 2021).

Para o filósofo Arthur Danto (2006) o contemporâneo tem uma perspectiva de desordem informativa, não existe um limite histórico, ou seja, tudo é permitido. De acordo com Cocchiaralle (2006) a arte contemporânea difundiu-se para além de um campo único e especializado, foi sendo construído pelo modernismo e passou a buscar uma interface dialogando com todas as outras linguagens da arte e, mais, com a própria vida, tornando-se para além disso, uma coisa entremeada por outros temas que não são propriamente da arte.

Assim, para alcançar seus objetivos, arte sensorial utiliza uma ampla variedade de técnicas e mídias para criar experiências ricas e sensoriais. Pintura, escultura, instalações, performances e até mesmo a gastronomia são exploradas nessa forma de expressão artística. Além disso, materiais como texturas, aromas, especiarias, sons e até mesmo alimentos podem ser incorporados às obras de arte sensoriais, ampliando ainda mais a gama de estímulos sensoriais proporcionados pelo objeto estético que é a obra de arte.

Dessa forma, segundo Pareyson (1989) “separar a matéria de sua obra é impossível. A matéria é insubstituível: a obra nasce como a adoção de uma matéria e triunfa como matéria formada.” (Salgado, 2010)

Podemos pensar que os materiais usados para construir a obra que será fruída, são o esqueleto, os músculos, a carne e a pele da obra de arte, que deve ser percebida pelos nossos cinco sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato.

Na arte sensorial não há necessidade de que a obra de arte construída por nós aborde todos os sentidos de uma vez. Podemos construir obras de arte que privilegiem o tato, ou o olfato, ou a audição ou dois ou mais sentidos etc.


FAÇA VOCE MESMO ARTE SENSORIAL

Você não precisa ser um artista reconhecido para criar sua própria obra de arte sensorial. A arte sensorial pode ser explorada em projetos pessoais, permitindo que você experimente e se conecte com seus próprios sentidos.

Experimente combinar diferentes materiais, texturas e cores, e convide outras pessoas para interagir com sua criação. Lembre-se de que a arte sensorial é uma expressão individual, o que não impede de trabalhar em grupo, e não há regras rígidas a seguir. (ceugaleria).

Para entendermos a arte sensorial podemos partir de uma perspectiva histórica, e tentar apreender seus cânones, e suas proposições. 
A seguir são apresentados alguns artistas que usam a arte sensorial para construir suas obras de arte. Inspire-se nesses artistas para as suas construções que iniciaremos a partir dessa semana.


1.
Lygia Clark

Lygia Clark (Lygia Pimentel Lins, Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988) é um dos mais importantes nomes da arte brasileira contemporânea, parte de uma geração responsável por ampliar as linguagens, estabelecer vínculos com as questões socioculturais e engajar todas as pessoas, sendo artistas ou não, na experiência transformadora de criar. Gradualmente seu trabalho passa do suporte bidimensional a experiências tridimensionais e processuais
Na Pinacoteca, destaca-se a presença da artista na coletiva Projeto construtivo na arte Brasileira (1977) e na individual Da obra ao acontecimento (2005-2006). Lygia é conhecida por seu trabalho inovador e por sua contribuição significativa para o mundo da arte. A última exposição institucional da artista no Brasil, Lygia Clark: uma retrospectiva, aconteceu em 2012, no Itaú Cultural.

Lygia Clark. A artista se inscreveu na história da arte insistindo que as pessoas deviam entrar em contato com o próprio corpo e ao longo de sua carreira traçou uma trajetória de objetos sensoriais, relacionais até a experiência do self.

Clark teve uma infância marcada por influências artísticas e culturais, ela cresceu em uma família que valorizava a arte e a criatividade. Seu pai era engenheiro e sua mãe era pianista, e quando ainda adolescente estudou escultura com Roberto Burle Marx, um renomado paisagista e artista plástico brasileiro. Ela também se envolveu com o Movimento Modernista e teve a oportunidade de conhecer artistas influentes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. No início de sua carreira artística, ela foi influenciada pelo construtivismo e pelo neoconcretismo, movimentos que valorizavam a abstração geométrica e a experimentação formal.

Obras neoconcretas de Lygia Clark. Óleo sobre tela.

Lygia Clark, Espaço modulado Nº 4. óleo sobre tela. 1958.

Clark também desenvolveu um interesse pela arte cinética, explorando a interação entre o espectador e a obra de arte. Uma das principais características do trabalho de Lygia Clark era o uso de materiais não tradicionais, como tecidos, arames e objetos cotidianos. Ela acreditava que a arte deveria estar acessível a todos e que as pessoas deveriam ser capazes de interagir fisicamente com as obras. Suas esculturas e instalações frequentemente convidavam o espectador a tocar, manipular e até mesmo vestir as peças, criando assim uma experiência sensorial única. Lygia Clark também explorou a relação entre o corpo e a arte, desenvolvendo técnicas terapêuticas que utilizavam a arte como forma de expressão e cura. Ela acreditava que a arte poderia ser uma ferramenta poderosa para explorar a subjetividade humana e promover o bem-estar mental e emocional.

Ao longo de sua carreira, Lygia Clark produziu uma vasta gama de obras de arte que abrangiam diferentes mídias e técnicas (pinturas, esculturas, instalações e performances). Suas obras mais conhecidas incluem “Bichos”, uma série de esculturas dobráveis em metal que permitiam ao espectador criar formas e composições personalizadas; e “Nostalgia do Corpo”, uma série de experimentos terapêuticos que exploravam a relação entre o corpo e a arte.

“Bichos” é considerada uma das principais contribuições de Clark para o movimento neoconcreto. As esculturas eram feitas de chapas de alumínio cortadas e articuladas, permitindo ao espectador manipular e transformar as formas de acordo com sua vontade. Essas obras desafiavam a ideia tradicional de escultura estática e proporcionavam uma experiência interativa única. (artsoul).


Lygia Clark, em 1963, disse que gostaria que as proposições de sua série Bichos não eram para ir para museus ou galerias, mas para serem vendidas em todos os lugares, inclusive nas esquinas, por camelôs. Ela queria que fossem feitos vários dos objetos para e que fossem precificados de modo que várias pessoas pudessem adquirir, democratizando o acesso à sua arte. (artequeacontece)

A obra Caminhando (1964), trabalho que representa um momento crucial da carreira de Clark, quando a artista rompe com a noção de autoria convidando o público, a partir de uma série de instruções, a cortar uma tira de papel em formato de uma fita de Moebius, levando-nos a considerar a obra como "puro ato".

A partir de meados da década de 1960, a artista realiza seus "Objetos relacionais", feitos de material simples e ordinário, em busca de um reencontro sensorial entre sujeito e mundo. A obra Pedra e ar (1966), foi o primeiro objeto relacional desenvolvido pela artista, a instalação "A Casa é o corpo", criada para a Bienal de Veneza de 1968.

Materiais usados pela artista
Materiais não tradicionais, como tecidos, arames e objetos cotidianos que permitem o toque e até mesmo vestir a obra.

(1)

Bicho (2)

Lygia Clark, Projeto para um planeta, 1960. (3)

Maquete para interior nº 2. (4)

Maquete para interior nº 2. (4)

Bichos 

Bibho (khanacademy)


Pedra e ar

Pedra e ar

Pedra e ar

Bicho (máquina) (artsandculture)

Obra mole n. 1. 1964. (1)


2.
Hélio Oiticica

Hélio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 – Rio de Janeiro, 22 de março de 1980) filho de Ângela Santos Oiticica e de José Oiticica Filho, fotógrafo, pintor, entomologista e professor. Seu avô, José Oiticica, que foi professor, filólogo e anarquista, é o autor do livro O Anarquismo ao Alcance de Todos (1945) (Frazão, 2022).

Hélio recebeu suas primeiras lições em casa com os seus pais. Em 1954 mudou-se com a família para os Estados Unidos, quando seu pai recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim.

De volta ao Brasil, em 1954, Hélio e seu irmão César Oiticica ingressam no curso de pintura e desenho de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nesse mesmo ano escreveu seu primeiro texto sobre artes plásticas.

Entre 1955 e 1956, integrou o Grupo Frente, Grupo Concretista que contava com a adesão de artistas importantes como Ivan Serpa, Lígia Clark e Lygia Pape, todos ligados ao Concretismo.(Frazão, 2022)

Um dos primeiros trabalhos realizados por Oiticica foi a série “Metaesquemas” (1956-58) quando elaborou mais de 400 pinturas, em pequeno formato, realizadas em guache sobre cartão, nas quais o artista fez experimentações com cores, formas abstratas geométricas e com o espaço.

Metaesquema 1958.

Na série Metaesquemas, Oiticica desenvolveu suas ideias as quais descreveu como “uma dissecação obsessiva do espaço” por meio da cor. A série compreende mais de 350 obras; o seu título combina as palavras portuguesas "meta": além da  e "esquema": estrutura. Oiticica considerava essas obras como “algo intermediário que não é pintura nem desenho”. É antes uma evolução da pintura”. Ao reduzir seu vocabulário a uma série de formas monocromáticas, principalmente quadrados e retângulos, Oiticica cria uma interação entre as formas e seu fundo que gera uma sensação de instabilidade e movimento, desafiando sua bidimensionalidade.

Isto é parcialmente conseguido através da utilização do “efeito espelho”. Qualquer sequência rítmica que o artista consiga num lado da grelha, ele repete no outro lado. Isto cria uma composição dinâmica e um sentimento de ambivalência sobre quais são as formas pintadas (as “figuras”) e quais são as áreas intermediárias (o “fundo”). No final de 1958, esta série evoluiu para composições preto/branco, azul/branco, vermelho/branco e branco/branco nas quais quadrados, retângulos e até mesmo a grade foram eliminados. A série de pinturas branco sobre branco representa ao mesmo tempo o fim de uma etapa de investigações cromáticas e um novo começo para o artista (azurebumble)


Metaesquema séries 1957-58. 293 x397 mm

A série Metaesquemas revela o espírito das investigações abstrato-concretas realizadas por Hélio Oiticica durante sua participação em 1955 e 1956 no Grupo Frente, fundado no Rio de Janeiro por Ivan Serpa com Aluísio Carvão e Lygia Pape, entre outros. Oiticica havia iniciado seus estudos de arte no Curso Livre de Pintura de Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954. Em 1956, quando acabara de completar 20 anos, começou a produzir seus Metaesquemas. Composta por mais de 400 trabalhos, a série consiste em exercícios metódicos, em pequeno formato, em sua maioria em guache sobre cartão, privilegiando experimentações com cores (preto, vermelho, amarelo, azul e verde), formas abstratas geométricas e espaço. (mam)

Os Metaesquemas de 1956 a 1957 apresentam formas como trapézios, losangos, retângulos, quadrados. As figuras parecem passear pelo papel, em alguns casos de forma ordenada pelo movimento de rotação ou explosão. Em outros casos, as formas tomam direções independentes das demais na composição, apontando para lados distintos, reforçando uma sensação de ruptura do plano da imagem.

Nos últimos trabalhos da série, feitos em 1957 e 1958, o artista explora, sobretudo, o retângulo e o trapézio, tanto em configurações chapadas de cor quanto em formas compostas por grossas linhas coloridas. O formato original desses elementos geométricos é esgarçado, dando maleabilidade às figuras, o que agrega mais movimento às composições. No entanto, o aspecto extraordinário e de fato dançante dessas formas se dá quando elas roçam umas nas outras, tocando-se levemente, e quando são dispostas de forma assimétrica, criando vibrações e ritmos, encontros e desencontros.(mam)

Metaesquema I, 1958. 52x64 cm. (encoclopedia)

Metaesquema (1958), de Hélio Oiticica, guache sobre cartão, 68 x 50 cm, Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, doação Fininvest. Foto Vicente de Mello (Frazão, 2022).

Hélio Oiticica foi um pintor, escultor, e artista performático de aspirações anarquistas. É considerado um dos maiores artistas da história da arte brasileira.

Hélio Oiticica buscou a superação da noção de objeto de arte como tradicionalmente definido pelas artes plásticas até então, em diálogo com a Teoria do não-objeto de Ferreira Gullar. O espectador também foi redefinido pelo artista carioca, que alçou o indivíduo à posição de participador, aberto a um novo comportamento que o conduzisse ao “exercício experimental da liberdade”, como articulado por Euma Maria. Nesse sentido, ocorre uma passagem do entendimento de arte contemplativa para a arte que afeta comportamentos, que tem uma dimensão ética, social e política, como explicitado no texto "A Declaração de Princípios Básicos da Nova Vanguarda", publicado em 1967 no catálogo da exposição Nova Objetividade Brasileira ocorrida no MAM-RJ (WP).

Entre os anos de 1960 a 1980, Hélio Oiticica questiona o sistema das artes e propõe múltiplas ações, que vão da pintura, instalação, performance, happnings e proposições. 

Suas obras provocam, instigam e convidam o espectador a participar. O corpo se faz presente em muitas de suas obras, envolvendo os sentidos. Nesse aspecto podemos afirmar que as obras de Oiticica envolvem basicamente os sentidos como um caminho para a razão e a intelecção da arte, ampliando e enriquecendo nosso ser no mundo. 

É possível observar obras que saem definitivamente do espaço das galerias, dando assim, mais ênfase ao processo de aproximação do público, fazendo com que muitas vezes o espectador passe a ser a obra ou parte da mesma, conforme afirma Freire (2006: 21), “(…) o público, que Helio Oiticica chama de participador, é o motor da obra e assume com sua negação à passividade uma posição crítica na dimensão ética e política”. 
No ambiente onde a obra acontece, há uma pluridisciplinariedade de atividades, aonde o corpo, o objeto e a proposta se auto relacionam, é o corpo do espectador e não somente o olhar que se insere, criando uma participação ativa do espectador ao qual vai manipular e explorar em um certo espaço o objeto em si apresentado, conforme podemos observar na imagem a seguir, em que o rapaz veste o “Parangolé”, obra de Hélio Oiticica que tem como objetivo instigar a participação do público. A obra só acontece com esta participação e é no movimento que podemos perceber, cor, forma, composição (Monego, 2016).

Parangolé

Nildo da Mangueira vestindo P 15 Parangolé capa 11 – Incorporo a revolta (1967), de Hélio Oiticica. Foto Claudio Oiticica, circa 1968. (mam).

Hélio Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira em 1964. A partir da Mangueira, aprofundou suas reflexões sobre experiências estéticas para além das belas-artes, incorporando elementos corporais e sensoriais, populares e vernaculares ao seu trabalho, mediante a dança, a coreografia, a música, o ritmo e o corpo. Foi nesse momento crucial que Oiticica começou a produzir os Parangolés, que considerava “antiobras de arte”.

Na arquitetura da "favela", p.ex., está implícito um caráter do Parangolé, tal a organicidade estrutural entre os elementos que o constituem e a circulação interna e o desmembramento externo dessas construções, não há passagens bruscas do "quarto" para a "sala" ou "cozinha", mas o essencial que define cada parte que se liga à outra em continuidade”, escreveu Oiticica em 1966.

Os Parangolés são capas, faixas e bandeiras construídas com tecidos e plásticos, às vezes com frases políticas ou poéticas. Ao vestir, correr ou dançar com um Parangolé, a pessoa deixa de ser um espectador para se tornar parte da obra de arte. É a partir do samba, da dança e da rua que Oiticica rompe definitivamente com as divisões entre artes visuais, música e dança, bem como com as noções de “estilo” e “coerência estética”, chegando a sua “descoberta do corpo”. (mam)

Grande núcleo. Instalação, Hélio Oiticica.

Bilaterais. Óleo sobre madeira. 1959


Outras obras importantes desse mesmo artista: 

Seja marginal seja herói (1968), bandeira-poema de Hélio Oiticica, pintura sobre tecido, 85 x 114,5 x 3 cm, da Coleção Eugênio Pacelli. (mam)

Hélio Oiticica em 1969 com a obra B33 Bólide caixa 18, Homenagem a Cara de Cavalo (1965-1966), em madeira, fotografias, náilon, tecido, vidro, ferro, plástico e pigmento, 40 x 30,5 x 68,5 cm, que está na Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio. (mam)


3.
Ernesto Neto

Ernesto Neto. Leviathan-Thot. Phanteon,Paris (2006).

Ernesto Neto. O jardim. (2003).

As obras de Ernesto Neto estão entre esculturas e instalações abstratas. O artista procurou explorar a superfície, os materiais, a relação da forma e seu simbolismo, além de aumentar gradativamente o nível do contato do público com as obras.

Materiais utilizados pelo artista:
Ernesto utiliza lycra, meia-calça feminina, algodão, poliamida, tubos de malha fina e translúcida, bolas de chumbo, polipropileno, isopor, miçangas, espumas e especiarias de diversas cores e aromas, como cravo da índia em pó e pimenta do reino moída, canela, gengibre etc.

O artista vê suas obras como extensões do próprio corpo, da própria pele; os tecidos utilizados remetem à epiderme. Ele propõe a interação do público através principalmente do toque com as superfícies macias, elásticas, que (geralmente) ficam pendentes oferecendo também as sensações de peso, força, tensão, equilíbrio.

Ernesto Neto acha interessante a existência de uma relação entre o frágil e o forte, o duro e o macio, o líquido e o sólido. Essas relações estão presentes em suas grandes instalações, que geralmente são penduradas ou presas em um teto com pé direito de grandes proporções.

As interações com a obra podem se dar de várias formas. Em algumas obras E. Neto convida o espectador a tocar; em outras, a sentar; na sequência cronológica de sua produção, vem também o convite à percepção olfativa (além da tátil); depois, os trabalhos chamados de “Naves”, são feitos para que o público penetre e caminhe pela obra.
O chamado a participação maior se dá em 2001, nos Humanóides, esculturas produzidas com o objetivo de capturar o corpo humano em seu interior, elas são “vestidas” pelo espectador. Agora, Ernesto expõe as superfícies de lycra multicoloridas, que proporcionam um universo de matéria e cor no qual o espectador pode caminhar e ficar imerso (ObichoSusPensonaPaisaGen).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.(revistacarbono).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011 e RJ, 2012.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.(revistacarbono).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011 e RJ 2012.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.

Ernesto Neto. Instalação



4.
Shirley Paes Leme


Shirley Paes Leme. Inside Out, 1986.

Shirley Paes Leme Paiva Arantes (Cachoeira Dourada, Goiás, 1955). Escultora, gravadora, desenhista, professora.

Realiza desenhos a partir de fumaça, arames ou gravetos, nos quais estão presentes também elementos ligados à memória de sua infância. Como aponta o historiador de arte Tadeu Chiarelli (2023), os desenhos de fumaça são o registro de uma série de pequenos gestos, que tentam reter o volátil, o efêmero. Em outros trabalhos, realiza traços com uma substância à base de frutas cítricas que, em contato com o calor de uma chama, faz aparecer linhas até então imperceptíveis. Com esse processo, que a artista denomina pirofitografia, faz do desenho um jogo que mescla acaso e vontade.

O trabalho da artista tem como objetivo a investigação do espaço, geografia humana e arquitetura vernacular são os temas fundamentais sobre os quais se debruça sua obra. Suas esculturas de materiais naturais e simples dialogam de modo poético com as construções mais tradicionais e originárias, brasileiras.

As esculturas de Shirley Paes Leme combinam formas originais com a familiaridade decorrente das técnicas populares de arquitetura e produção de objetos, ligadas à cestaria, adereços corporais e habitações indígenas ou caboclas. Em produção recente, a artista incorpora novos meios, como o vídeo e a telefonia celular, em suas instalações.




Exercícios de Arte Sensorial

Todo ser humano nasce criativo, mas sua criatividade vai sendo suprimida pelo cotidiano ao longo da vida. Para re-despertarmos  nossos sentidos e estimularmos nossa criatividade, convido a todos a reascender a imaginação usando a criatividade que ainda resta em nós. 
Utilizando tudo que aprendemos até agora, vamos construir um Jardim dos Sentidos, povoado de obras que promovam uma imersão sensorial a todos que dele se aproximarem. Essa obra cooperativa fara parte de uma exposição em nossa Feira de Arte, Cultura e Ciência.


O que atiça os seus sentidos? E como despertar a criatividade?


1) Construir um caminho de texturas com galhos, folhas, grama, pano seco, pano úmido, areia, brita miúda etc.. (andar de pés descalços)

2) Construir um jardim sensorial com ramos, folhas secas, sementes, grama, pedras areia etc.

3) Jardim dos perfumes, essências e fragrâncias 

4) Mesa dos sabores

5) Tato: usar materiais lisos, rugosos, frios (pedras) com diferentes formatos geométricos.




Fonte


Souza, L.C.Loiola. (2021) Linguagens e materialidades na arte contemporânea: o lugar da educação infantil e das crianças nesse debate.
Olhar de professor, Ponta Grossa, v. 24, p. 1-15, e-17748.073, 2021. https://revista2.uepg.br/index.php/olhardoprofessor.




























(Publicado em 29/VII/2024)





segunda-feira, 2 de setembro de 2024

COMEÇANDO A DESENHAR

TÉCNICAS DE DESENHO


“Na vida, não existe nada a temer, mas a entender.” 
(Marie Curie)


Desenho é a representação de seres, objetos etc. (reais ou imaginados) feita sobre uma superfície bidimensional, por meios gráficos, com instrumentos apropriados como carvão, tinta, ou lápis (grafite).

Assim, o desenho é a arte, ou a técnica de representar, ou criar formas, utilizando materiais como lápis, carvão, pincel. Diferencia-se da pintura e da gravura, por ser considerado tanto como processo quanto como resultado artístico. É uma obra bidimensional composta por linhas, pontos e formas planas e volumétricas.

Neste tópico vamos abordar duas técnicas importantes de desenho que nos auxiliam muito na representação da realidade.





Desenhos mais antigos do mundo, feitos há mais de 30 mil anos na caverna de Chauvet, França. (diversas fontes: 1, 2, 3)

Cuevas de los sueños olvidados

Existem várias técnicas de desenho, e a escolha dos materiais utilizados está relacionada com cada uma dessas técnicas, e com que fidedignidade queremos representar a realidade.

Elementos do desenho
Os elementos do desenho incluem a linha, a forma, o valor da linha, luz e sombra, volume, perspectiva e composição. Dependendo do material utilizado, as linhas podem ser finas ou grossas. Eles são usados ​​para capturar a forma de qualquer objeto que o artista queira transmitir.

A perspectiva 
Palavra perspectiva vem do latim, perspicere: per + spice + ere; per: através de + spice, spico: olhar para; olhar para, através de, i.e., olhar para algo através de. Assim, a perspectiva é uma projeção de um objeto ou cena tridimensional numa superfície bidimensional, com o objetivo de mostrar a posição relativa dos elementos da cena entre si. 

A perspectiva usada na arte geralmente se refere à representação de objetos, cenas ou espaços tridimensionais em uma superfície bidimensional. A perspectiva é usada para criar uma impressão realista de profundidade ou tridimensionalidade. “Brincar” com a perspectiva, significa apresentar imagens de pontos de vista que conferem dramaticidade ou desorientação. Perspectiva também pode significar um ponto de vista, a posição a partir da qual um indivíduo ou grupo de pessoas vê e responde ao mundo ao seu redor. A perspectiva é a arte que se dedica à representação de objetos tridimensionais numa superfície bidimensional (isto é, plana) com o objetivo de recriar a posição relativa e a profundidade desses objetos. A finalidade da perspectiva é, por conseguinte, reproduzir a forma e a disposição segundo a qual os objetos se apresentam ao olho do observador. A perspectiva linear é uma representação aproximada, geralmente em uma superfície plana, de uma imagem conforme ela é vista pelo olho. O desenho em perspectiva é útil para representar uma cena tridimensional em um meio bidimensional, como o papel. Baseia-se no fato óptico de que, os objetos aparecem para nosso olho com um tamanho angular, e quanto mais distante, menores ficam os objetos quando colocados no mesmo plano. 

Desta forma a perspectiva é a arte de desenhar objetos sólidos em uma superfície bidimensional de modo a dar a impressão correta de sua altura, largura, profundidade e posição em relação uns aos outros quando vistos de um ponto específico. Um desenho em perspectiva, é uma imagem desenhada em perspectiva, especialmente uma que parece ampliar ou estender o espaço real, ou mostrar o efeito de distância entre os objetos da cena.

A perspectiva linear é uma técnica geométrica que usa linhas retas para mostrar a aparência dos objetos com base na distância do plano mais próximo do observador da pintura ou desenho. Todas as linhas perpendiculares ao plano da imagem convergem para um único “ponto de fuga”. Filippo Brunelleschi introduziu uma técnica para representar objetos à medida que “recuavam” até o ponto de fuga, e Leone Battista Alberti, em De Pictura (1435), formulou um método preciso de construção de perspectiva, que foi rapidamente adotado pelos artistas florentinos do século XV.

Composição
A Composição refere-se a como os objetos são colocados um ao lado do outro. O artista usa a composição pela forma como organiza os temas escolhidos dentro do seu quadro de trabalho. Um artista de natureza morta pode escolher uma variedade de frutas e colocá-las de acordo com o tamanho. Um artista que trabalha com modelos da vida real pode posicioná-los de forma que os olhos do observador possam se mover facilmente de cada objeto ou pessoa.

Existem muitas maneiras de produzir uma imagem. Vamos usar duas técnicas nesse curso: o Pontilhismo e o realismo.


PONTILHISMO

Divisionismo, cromoluminarismo, pintura de pontos ou simplesmente pontilhismo
Todos esses nomes se referem à técnica artística que, como o nome diz, forma o objeto ou motivo ou cena retratada através do uso de vários pontos colocados muito próximos.

Esta é uma técnicas de desenho desafiadora que requer atenção e paciência. Esse método consiste em elaborar um desenho a partir de pequenos pontinhos a lápis, caneta, marcador ou outro material de desenho.

O estudo da Linha e do Ponto é muito importante para o desenvolvimento das noções de volume, sombra e perspectiva na produção artística. O pontilhismo surgiu na França em meados da década de 1880 e é uma técnica de desenho e  pintura que baseia-se na colocação de pontos próximos uns dos outros o que, à uma certa distância, provoca uma sensação ótica de uma imagem íntegra detalhada. Esta técnica de desenho/pintura caracteriza-se por “construir” o desenho com camadas sucessivas de pontos coloridos ou não até a saturação total da tela. O artista que mais se dedicou a esta técnica e ao seu desenvolvimento foi George Seurat, pintor impressionista. No Brasil, diversos artistas entre 1889 e 1930, empregaram o pontilhismo. Destacam-se, nesse sentido, Belmiro de Almeida, Eliseu Visconti, Rodolfo Chambelland e Artur Timóteo da Costa, entre outros. Em resumo, o pontilhismo consiste em pintar o que é observado aplicando pequenos pontos de cor muito próximos.

Desenho usando pontos. Essa técnica inicia com o contorno depois o delineamento, e por ultimo o sombreamento, para formar a figura ou o motivo.
(modif. de monique e slideshare)

Hippocampus spp (Linnaeus, 1758)
(Lembrem que a presença dos parênteses no nome científico significa que a espécie foi originariamente descrita em outro gênero, sendo posteriormente transferida para o atual, preservando o nome de quem descreveu originalmente esse gênero).

Os pontos (ou manchas) feitos a uma distância mínima uns dos outros é o que definem aspectos importantes da imagem, volume, luz e sombras e planos de profundidade. A própria composição do objeto, motivo ou cena se dá pela proximidade dos pontos e pode ser tanto colorida como em preto e branco.

Se fossemos resumir o pontilhismo poderíamos dizer que essa técnica funciona como um efeito ótico, já que brinca com o modo como o nosso cérebro forma (vê e entende) as imagens.

Pense nas telas que utilizamos em nosso dia a dia, como a televisão e celular. Os pixels são pequenos pontos de imagem que, juntos, formam a totalidade da cena que entra na nossa visão.

Na pintura pontilista, o que conta não são as camadas mescladas de tinta, mas a justaposição das cores e do formato das pinceladas.

É possível trabalhar com contraste, luz e sombra com essa técnica, desde que sejam observados o nível de pigmentação, a pressão da mão e a concentração de pontinhos em determinadas áreas do desenho.

É preciso ter bastante paciência, porque essa é uma técnica lenta, mas que pode trazer resultados incríveis. Comece com desenhos básicos e pequenos e vá aumentando o nível de dificuldade com o tempo.

Características do pontilhismo:

Decomposição das cores
Pintura feita por pequenos pontos (como um mosaico)
Fragmentação e simplificação das formas
Preferência por cenários ao ar livre
Investigação da luz e da percepção ótica

Outras características: 
Ao observarmos diversos artistas que fazem uso dessa técnica fica evidente algumas características, como:

Preferência pelo uso das tintas a óleo: como o objetivo era romper com as técnicas de pinturas utilizadas pelos impressionistas, como a linha, a tinta a óleo era a melhor opção. Esse material possui uma melhor espessura e não escorre com facilidade;
Trabalho ao ar livre: a fim de captar a luminosidade, o trabalho ao ar livre era a premissa fundamental para reproduzir a dimensão e profundidade do ambiente por meio da decomposição das cores;
Estudos científicos das cores: a pesquisa da lei das cores complementares foi uma teoria importante para inaugurar a possibilidade de contrastar simultaneamente as cores. Esses avanços científicos da época foram cruciais para o surgimento da nova técnica de pintura;
Valoração do recorte geométrico: pontilhismo tem por objetivo o recorte geométrico, fundamentando-se nas pesquisas científicas da cor, a fim de transmitir uma nova percepção por meio das cores justapostas;
Justaposição dos pontos coloridos entre cores primárias e secundárias: a justaposição das cores primárias separadas por espaços brancos propicia a ilusão de uma terceira cor que, quando vista à distância, faz com que a pintura transmita a impressão de continuidade;
Pinturas que valorizam a natureza: a grande maioria das obras pertencentes a esse movimento artístico retratam cenas que valorizam a natureza, isso porque os artistas pontilhistas objetivavam transmitir cenas com muita cor e luz. (Abercio, s/d)


Realismo e Hiper-realismo

O hiper-realismo é um movimento artístico que tem como objetivo retratar a realidade de forma fiel e precisa. O termo “hiper-realismo” foi criado nos anos 1970 para descrever uma tendência que surgiu como uma reação à arte abstrata e conceitual, que predominava na época desde o inicio da década de 1960. Desde então, o hiper-realismo se tornou uma das formas mais populares e desafiadoras de arte figurativa.

Arte abstrata
A arte abstrata é a arte que não procura elaborar uma representação visual precisa da realidade. Dentre os tipos principais de arte abstrata (abstracionismo geométrico e abstracionismo lírico), existe um ponto em comum: a realidade é subjetiva e cabe ao expectador defini-la.(arteref)

Arte conceitual
A Arte Conceitual é um movimento que compreende que a ideia por traz de uma obra é mais importante que sua aparência ou as ferramentas e materiais que a compõem. O conceitualismo ou arte conceito, defende que uma obra de arte deve, antes de tudo, causar reflexões, provocações e questionamentos no espectador.(arteref)

Assim, a importância do hiper-realismo na arte em geral e na arte contemporânea está ligada à sua capacidade de nos fazer questionar a natureza da percepção visual e do realismo na arte. Ao criar imagens que são tão próximas da realidade, os artistas hiper-realistas desafiam nossas expectativas e nos levam a refletir sobre a natureza da imagem, da representação e da experiência visual (art).

Você já viu desenhos que parecem fotografias de tão perfeitos? Pois a técnica utilizada nessas obras é o hiper-realismo. Ela exige muita atenção, pois todos os detalhes devem ser observados e transmitidos fielmente ao papel. Por isso, exige observação, treino e paciência.

O ideal é contar com alguns materiais diferentes, como lápis grafite, para o esboço, esfuminho de vários tamanhos, lápis de cor e tintas, para tentar chegar nas cores do objeto original, entre outros. É preciso reproduzir as formas, relevos, pontos de luz, degradês, sombras e todo detalhe presente no objeto. 
A dica é dividir o desenho em algumas partes e se concentrar em cada uma por vez e treinar muito em cada uma dessas partes.


O REALISMO

O realismo foi o movimento que surgiu na França no século XIX, como oposição ao romantismo. Sua ideia central era representar a realidade da sociedade da época, saindo do estilo vigente da época, que focava-se principalmente na nobreza ou alta sociedade.

Valorização da objetividade e dos fatos.
Impessoalidade, apagamento das ideias do autor em prol da descrição fidedigna da realidade.
Descrições de tipos sociais ou situações típicas.
Crise e declínio da idealização: retratos do mundo como ele é, miséria e fracasso social.
Na literatura prevalece as formas do romance e do conto.
Frequentes críticas às hipocrisias da moralidade da nova classe dominante, a burguesia.
Aceitação da realidade tal como ela é, em oposição aos anseios de liberdade dos românticos.
Esteticismo: linguagem culta e estilizada, escrita com proporção e elegância.
Tentativa de explicar o real, recorrendo muitas vezes à ciência ou ao determinismo.
Abordagem psicológica das personagens como composição da realidade que é vista. (brasilescola)

Busca de representação mais verossímil da realidade, valorização da objetividade, afastamento e ou rejeição da mitologia e da religiosidade, fidedignidade à realidade, entre outras, são as características que o realismo, compartilha com o hiper-realismo.

Assim, a semelhança entre ambas é o cunho crítico de muitos artistas, pois no Hiper-realismo em muitos casos as críticas vêm em relação a sociedade de consumo (algo em comum também com a Pop Art,  que critica ironicamente a sociedade capitalista e os objetos de consumo.

O desenho realista exige muita técnica e uma capacidade de observação apurada do artista (observação criteriosa). Assim, é recomendado treinar para alcançar o resultado desejado, o de representar fidedignamente a reralidade.

Para voce que inicia nessa técnica, três são as habilidades necessárias: observação, treino e paciência.

O realismo nas artes é geralmente a tentativa de representar o assunto com veracidade, sem artificialidade e evitando elementos especulativos e sobrenaturais ou idealizados. 

O termo é frequentemente usado de forma intercambiável com naturalismo, embora estes termos não sejam sinônimos. O naturalismo, como ideia relativa à representação visual na arte ocidental, procura representar objetos com o mínimo de distorção possível e está ligado ao desenvolvimento da perspectiva linear e do ilusionismo na Europa renascentista. A Arte naturalista (desenho, pintura, escultura etc.) se opõe à escola romântica, focando na objetividade e na representação mais fiel da realidade, sem idealizações e subjetivismos.

Características do realismo (ptslideshare)

O realismo, embora baseado na representação naturalista e num afastamento da idealização da arte acadêmica anterior, refere-se frequentemente a um movimento histórico da arte específico que se originou na França no final da Revolução Francesa de 1848. O próprio romantismo já vinha lentamente abandoando essa ênfase no idealismo, em prol de uma descrição mais fidedigna da sociedade e da realidade. No realismo trata-se de uma concepção de mundo científica, que propunha que a apreensão da realidade deveria ser objetiva, empírica, como nos procedimentos de análise das ciências naturais. (brasilescola)

Com artistas como Gustave Courbet enfatizando o mundano, o feio ou sórdido, o realismo foi motivado pelo interesse renovado no homem comum e pela ascensão da política de esquerda ou progressista. Os pintores realistas rejeitaram o Romantismo, que passou a dominar a literatura e as artes francesas, com raízes no final do século XVIII. (WP).

A ideia era dar mais realismo, literalmente falando, tanto às manifestações artísticas como também aos textos literários, para que o resultado fosse sempre o mais fiel possível à realidade e para que se conseguisse captar fielmente o que de fato acontecia. Dentro desta lógica, ganhou força uma forma de arte chamada de pintura realista, que se caracterizava por tentar reproduzir do modo mais fiel possível o que se oferecia à vista do pintor. (Modif. de Damasceno, s/d)

O que hoje comumente chamamos de desenho realista, é na verdade, é o desenho hiper-realista.

Como vimos há uma confusão entre o entendimento do que seja o realismo (naturalismo) que surgiu no sec. XVIII e do hiper-realismo, surgido na década de 1970 em diante, movimentos artísticos que como podemos perceber marcaram épocas distintas e que possuem filosofias, técnicas e objetivos diferentes.

O hiper-realismo surge na década de 1960, tendo se popularizado nos anos subsequentes, chegando até hoje. A sua principal característica é a representação de elementos do mundo real, como objetos, animais, a natureza, buscando a representação de cada pequeno detalhe com a máxima verossimilhança possível. Com a máxima verossimilhança torna-se impossível saber se é um desenho ou fotografia.

HIPER-REALISMO

Segundo a Academia Brasileira de Arte podemos definir o hiper-realismo como a  reprodução de uma imagem de uma forma tão real e precisa, que ao vê-la, o espectador se questione se é uma pintura ou uma fotografia. Essa definição pode-se aplicar também às esculturas do movimento, que passam a impressão de serem reais e que se movimentarão a qualquer momento. Devido a isso, um dos principais objetivos desse movimento é reproduzir os mínimos detalhes de uma imagem, como em uma foto de alta resolução. Para isso, muitas vezes se tem o auxílio de meios mecânicos para reproduzir a imagem na tela. Os temas das obras são quase sempre voltados para coisas reais como pessoas, paisagens, animais, etc.

Primeiramente em relação ao realismo: este foi o movimento que surgiu na França no século XIX, como oposição ao romantismo. Sua ideia central era representar a realidade da sociedade da época, saindo do estilo vigente da época, que focava-se principalmente na nobreza ou alta sociedade.  

Já em relação ao fotorrealismo, a coisa muda um pouco. O hiper-realismo surgiu como uma vertente dela, mas trazendo mais liberdade criativa, que possibilitava diferentes enfoques das imagens. Por outro lado, o fotorrealismo busca a reprodução de forma 100% fiel, sem haver esse “toque do autor” transmitindo emoção à obra, por exemplo. 

Hiper-realismo: fotografia ou desenho?

O mundo real, a natureza e as pessoas sempre foram objetos de inspiração, análise e reflexão para os artistas, nas suas mais diversas expressões, incluindo a pictórica.

Quadros famosos de grandes artistas, como Monalisa, de Leonardo Da Vinci (Século XV), As meninas, de Diego Velázquez (século XVI), Moça com brinco de pérola, de Johannes Vermeer (século XVII), e muitos outros, tinham pessoas como personagens, mas eram claramente uma pintura.

No hiper-realismo, o objetivo é criar uma pintura ou desenho tão próximo da realidade, que fica difícil distinguir de uma fotografia. Para alcançar tal resultado, os artistas levaram a um outro nível técnicas de luz, sombra, degradê e desenvolveram uma capacidade de observação de detalhes quase que científica.

Por se tratar de uma técnica muito detalhista, é comum que os desenhistas utilizem uma foto como referência para os desenhos realistas.


Como fazer um desenho hiper-realista?

Ainda que o objetivo de artistas de desenho realista seja o mesmo, ou seja, a representação de elementos do mundo de uma forma bastante próxima da realidade, as soluções e as etapas empregadas dependerão de cada pessoa. Aqui, listamos algumas para ajudar você que está começando agora.

1) Observar
Já falamos que a observação apurada é uma das qualidades do artista de desenho realista. Assim, observe elementos como:
luz e sombra – perceba onde estão as parte mais iluminadas no seu modelo, como a luz cria transição de cores do ponto mais iluminado até o lugares com mais sombra e como criam a sensação de volume em uma foto, por exemplo;

2) Relacionamento entre os objetos 
Observe e reproduza as escalas de tamanhos dos objetos em cena, sendo menores os que estão ao fundo e maiores os que estão em primeiro plano, forma como percebemos a realidade;

3) Arestas dos elementos 
São as linhas que contornam os objetos em cena, que nos permite diferenciá-los da superfície, dando o efeito 3D.

Desenho realista (useartools)

Materiais para desenho (eu-geek)
Material necessário: Antes de começar a desenhar, é importante ter o material adequado. Aqui estão alguns itens essenciais:


Transcrevo aqui algumas reflexões do Blog Medium sobre o que é importante no desenho realista. (medium)

Lápis
Recomenda-se o uso de lápis de alta qualidade com diferentes graus de dureza, como H, HB e B.

Papel 
Opte por papel de desenho de qualidade, com uma textura que permita a aderência adequada do lápis.

Borracha 
Escolha uma borracha macia para realizar ajustes e correções precisas.

Esfuminho ou papel toalha 
Essas ferramentas ajudam a suavizar e misturar as linhas e tons no desenho.

Observação e estudo
Antes de começar a desenhar, é essencial observar o objeto ou a referência que você deseja desenhar com atenção. Estude os detalhes, as formas, as sombras e as texturas presentes. Quanto mais você entender a estrutura do objeto, mais fácil será recriá-lo de forma realista em seu desenho.

Esboço inicial 
Comece o desenho com um esboço leve e solto, usando linhas suaves para representar as formas e proporções básicas. Foque-se em capturar a estrutura geral do objeto e não se preocupe com detalhes neste estágio.

Tons e valores
Os tons e valores são fundamentais para criar um desenho realista. Observe as áreas mais escuras e claras do objeto e crie graduações suaves para representar essas diferenças. Use uma combinação de pressão e movimentos de lápis para obter uma variação tonal adequada.

Estudo das sombras 
As sombras são elementos essenciais para criar profundidade e volume em um desenho realista. Observe as áreas sombreadas do objeto e reproduza-as em seu desenho com precisão. Utilize técnicas como hachuras, esfumados suaves e camadas de lápis para alcançar um efeito de sombra realista.

Detalhes
À medida que você progride em seu desenho, comece a adicionar detalhes graduais. Concentre-se nos pequenos elementos que fazem a diferença, como texturas, rugas, cabelos, reflexos, entre outros. Lembre-se de trabalhar de maneira gradual, construindo os detalhes à medida que avança.

Paciência e prática 
A habilidade de criar desenhos realistas leva tempo para se desenvolver. É essencial ter paciência consigo mesmo e dedicar tempo regular à prática. Quanto mais você desenhar, mais habilidoso se tornará.

Experimentação e aprendizado contínuo 
O desenho realista é um processo de aprendizado contínuo. Experimente diferentes técnicas, estilos e materiais para descobrir o que funciona melhor para você. Aprenda com outros artistas, participe de workshops, leia livros e assista a tutoriais online para aprimorar suas habilidades.

Aperfeiçoamento das habilidades de observação
Um aspecto crucial do desenho realista é a capacidade de observar com atenção os detalhes do objeto ou da referência. A prática constante de observação ajudará a treinar seu olhar para capturar nuances, texturas e características específicas. Exercícios como desenhar objetos simples em diferentes ângulos e luzes podem aprimorar suas habilidades de observação.

Uso de referências fotográficas
Além de desenhar a partir de observação direta, o uso de referências fotográficas pode ser extremamente útil, especialmente para desenhos mais complexos ou quando não é possível ter acesso direto ao objeto. Certifique-se de escolher uma fotografia de alta qualidade, com boa iluminação e detalhes nítidos. Use-a como guia, mas não se restrinja a copiar exatamente o que vê na foto. Adicione sua interpretação pessoal e ajuste os elementos conforme necessário.

Dominando as técnicas de sombreamento
O sombreamento é uma técnica fundamental para criar volume, profundidade e realismo em um desenho. Experimente diferentes técnicas de sombreamento, como hachuras, traços cruzados, esfumados suaves e camadas de lápis. Aprenda a controlar a pressão do lápis para criar transições suaves entre tons claros e escuros. Pratique a criação de diferentes texturas, como pele, cabelo, madeira ou tecido, adaptando sua técnica de sombreamento de acordo.

Paciência e atenção aos detalhes
O desenho realista exige paciência e atenção meticulosa aos detalhes. Dedique tempo para cada parte do desenho, trabalhando em seções e avançando gradualmente. Concentre-se nos pequenos detalhes que dão vida à sua obra, como reflexos, texturas e pequenas imperfeições. Não tenha pressa e esteja disposto a revisar e refinar seu trabalho até alcançar o resultado desejado.

Experimentação com diferentes materiais
Embora os lápis sejam os materiais mais comuns para desenhos realistas, não tenha medo de experimentar outros materiais. Tente usar lápis de cor, grafite em pó, carvão, pastel seco ou qualquer outro meio que desperte sua curiosidade. Cada material tem suas características e efeitos únicos, permitindo que você crie diferentes estilos e texturas em seus desenhos.

Aprenda com a comunidade artística
Participe de grupos de desenho, workshops ou fóruns online, onde você pode interagir com outros artistas e compartilhar suas experiências. Aprenda com os mais experientes, receba feedback construtivo e busque inspiração em suas obras. A comunidade artística é um recurso valioso para aprimorar suas habilidades e expandir seus horizontes artísticos.


ILUSTRAÇÃO BIOLÓGICA

ZOOLOGIA


1

2

Figs. 1, 2. Dryas iulia alcionea, larva de primeiro instar: 1, cápsula cefálica, vista frontal; 
2, placa protorácica, vista dorsal (A, cerda anterior; Aa, poro anterior; AF, cerda adfrontal; Afa, poro adfrontal; C, cerda clipeal; D, cerda dorsal; F, cerda frontal; Fa, poro frontal; L, cerda lateral; La, poro lateral; MD, microcerda dorsal; MDa, poro dorsal; P, cerda póstero-dorsal; Pa e Pb, poros pósterodorsais; S, cerda estematal; Sb, poro estematal; SS, cerda subestematal; XD, poros e cerdas protorácicas). Barra, 90 µm. (Fonte: Paim, Kaminski e Moreira, 2002)

3

4
Figs. 3, 4. Dryas iulia alcionea, larvas em vista lateral: 
3, primeiro instar; 4, quinto instar (D, cerda dorsal; L, cerda lateral; PP, cerda paraproctal; Sc, escolo cefálico; SD, cerda subdorsal; Sl, escolo subespiracular; Sn, escolo anal; So, escolo dorsal; Sp, escolo supraespiracular; SV, cerda subventral; XD, cerda protorácica). Barras: fig. 9, 0,2mm; fig. 10, 1mm.

5
5. Dryas iulia alcionea, padrão de coloração: 5(superior), larva de quinto instar; 5(superior), pupa. Barras: fig. 5(sup.), 1mm; fig. 5(inf.), 2,2mm. 


BOTÂNICA 

Dois brasileiros figuram na galeria de ganhadores do Prêmio Margaret Flockton de Ilustração Cientifica Botânica-2013, oferecido pela Fundação Amigos do Royal Botanic Garden de Sydney, Austrália. Rogério Lupo conquistou o primeiro lugar, com uma ilustração de Vellozia sp., enquanto Klei Sousa, com uma Cattleya forbesii (ilustração acima), foi distinguido com Menção Honrosa. (orquidofilos).


CADERNOS DE CAMPO E SKETCHBOOKS
OU CADERNOS DE DESENHO

1. CADERNO DE CAMPO

Segundo Kroef, Gavillon e Ramm (2020): "o trabalho de campo é uma estratégia importante de pesquisa, uma vez que envolve a articulação de proposições teóricas com a experiência empírica na produção de saberes contextualizados. Frequentemente, em estudos exploratórios com viés qualitativo desenvolvidos na antropologia, na psicologia e em outras áreas de conhecimento utiliza-se a escrita de diários de campo como ferramenta metodológica para registro e posterior análise da experiência do(a) pesquisador(a) e dos(as) participantes". A partir dessa afirmação podemos constatar que o registro de dados objetivos, empíricos e subjetivos são igualmente importantes, numa investigação. Para registrar esses dados lançamos mão de um método de registro que chamamos de "Caderno de campo ou diário de campo".

O caderno de campo ou diário de campo é um instrumento utilizado por naturalistas, investigadores, pesquisadores e estudantes para registar/anotar os dados coletados no campo.  

O termo “diário” é aposto ao “campo” uma vez que esse documento assemelha-se, em seu uso, a um diário pessoal (personal jornal). Já a palavra  “campo” é empregada em um sentido amplo, significando uma área de trabalho, ou que deve ser levado a campo (natureza), todavia, “campo” pode ser entendido como qualquer ambiente onde se possa realizar uma pesquisa, tais como: uma área da natureza, um bosque, ou uma área da cidade, uma sala de aula um laboratório, etc.

Esses dados podem ser analisados e interpretados preliminarmente e assim, orientar a pesquisa ou investigação em diversos sentidos. Desta forma, o diário de campo é uma ferramenta que permite ao pesquisador registrar e sistematizar a coleta de dados e as suas experiências no campo para posteriormente preencher lacunas que faltam e analisar os resultados preliminares.

Cada pesquisador ou investigador tem a sua própria metodologia na hora de registrar em seu diário ou fazer uma nova entrada de dados. 

Alguns pesquisadores, iniciam sempre com o local, a data, a hora, a temperatura (as condições gerais do tempo). Descrevem o local e o que percepcionam a respeito do ambiente  em geral. Mesmo que visite diversas vezes o mesmo local ou área, a cada entrada de dados, registra essa percepção geral ou estado do ambiente naquele dado momento.

No diário de campo ou caderno de campo, pode-se incluir, além dos dados coletado no ambiente, e informações sobre nosso objeto de estudo, ideias desenvolvidas, frases isoladas, comunicação pessoal de outros pesquisadores, transcrições, mapas e esquemas, por exemplo. O que importa mesmo é que o investigador possa apontar no diário aquilo que vê/observa ao longo do seu processo de investigação para depois analisar e estudar, e assim, nortear o processo investigativo futuro.

Segundo Ortega (s/d), o diário de campo é uma ferramenta de pesquisa que contém todos os dados coletados durante uma investigação de campo. Geralmente, o pesquisador utiliza o diário de campo para registrar suas observações e pensamentos de forma organizada. Esse registro possibilita a coleta de pistas sobre o funcionamento de um sistema seja ele físico, geográfico, biológico ou social. E prossegue dizendo que o diário de campo deve auxiliar o pesquisador na compreensão do ambiente de um determinado sistema. Portanto, é usado para descrever quem, o quê, por que, onde, quando e como ocorrem os eventos, atividades ou processos que são objeto da pesquisa. 
O “quem” refere-se às pessoas ou ao sistema estudado. O “o quê” diz respeito às informações coletadas. O “porquê”, “onde”, “quando” e “como” fornecem detalhes importantes sobre a observação.


DICAS IMPORTANTES PARA UM DIÁRIO DE CAMPO

Ainda segundo Ortega (s/d) existem algumas características que tornam um diário ou caderno de campo de excelente qualidade e utilidade para a pesquisa e para a história, são elas:

1. Precisão na escrita
Você tem apenas uma oportunidade de observar um momento específico. Portanto, antes de realizar as observações, é importante praticar fazer anotações em um ambiente semelhante ao local de observação em termos de número de pessoas, do ambiente e da dinâmica social  (no caso de pesquisa social). Isso o ajudará a desenvolver seu próprio estilo para transcrever observações com rapidez e precisão.

2. Organização prévia
Fazer anotações precisas enquanto se observa ativamente pode ser difícil. Portanto, é importante planejar com antecedência como você documentará seu estudo de observação, pois anotações desorganizadas dificultarão a interpretação dos dados. Assim, num diário de campo de um naturalista as condições do ambiente (como temperatura, se faz sol ou chove, o tipo de solo a inclinação do terreno, se é um ambiente úmido ou seco, rochoso, argiloso ou arenoso etc...  são importantes para entendermos a dinâmica desse ambiente e para auxiliar no estudo do nosso objeto de pesquisa e nas possíveis explicações sobre traços ou características observadas.

3. Conteúdo descritivo
Utilize palavras descritivas para documentar o que você observa. Por exemplo, em vez de observar que um ambiente é agradável, (agradável para quem?)... em vez disso descreva esse ambiente em termos de suas variáveis climáticas como a temperatura insolação, pressão atmosférica, vento e direção do vento predominante, umidade do ar, sombreamento, tipo de solo, presença de riachos ou córregos, etc., visando englobar o máximo de variáveis que explique a presença de uma determinada espécie nesse ambiente. Se o ambiente for uma sala de aula ao invés de dizer que a sala de aula parece “confortável”, você pode dizer que a sala de aula tem iluminação suave e cadeiras acolchoadas que os participantes do estudo podem mover. Ser descritivo significa fornecer evidências factuais suficientes para evitar fazer suposições ao redigir o relatório final.

4. Centralização no problema de pesquisa
Como é impossível documentar tudo o que você observa, inclua o máximo de detalhes possível sobre os aspectos do problema de pesquisa e as construções teóricas que sustentam sua pesquisa. Acima de tudo, evite sobrecarregar suas anotações com informações irrelevantes. 
 
5. Leve sempre seu caderno de campo
Transporte sempre consigo o caderno ou diário de campo e um lápis para estar pronto para registar as observações sempre que houver oportunidade. Lápis é preferível à caneta pois em dias de chuva a caneta falha e pode borrar e com o lápis podemos escrever mesmo em dias úmidos.  

6. Anotações, esquemas e desenhos
Quando fizer desenhos, cole pedaços das plantas observadas (folhas, pétalas, flores etc.), ou fotografias, anote a data, a hora, o local e aspectos meteorológicos, como a temperatura e se há vento ou não e de onde está soprando.
Use pequenas notas para salientar algumas das suas observações, emoções, pensamentos e ideias durante o trabalho de campo. 
Por exemplo, escolha uma árvore no seu quintal, bairro ou parque local. O que pode notar sobre seu cheiro, caule, casca, folhas, raízes, sementes, frutos, sua altura? Que tipo de árvore é? Se tiver flores descreva a flor, numero de pétalas e sépalas. Que espécies de animais se encontram na árvore? Há larvas se alimentado das folhas? Há liquens na casca, de que cor são esses liquens, descreva-os. Qual o tamanho da árvore, altura e largura (diâmetro na altura do seu peito), do tronco e da copa (projeção da copa no solo)?

7. Mantenha a atenção 
Permita que os seus sentidos observem completamente o que está acontecendo ao seu redor. Enfim, registe tudo o que você vê, ouve e cheira. Descreva o ambiente, o ar, a paisagem e o solo. Sobre o solo investigue se há rochas naturalmente no local, observe e descreva sua cor, se há minerais visíveis na matriz da rocha, descreva o tipo de solo... 

8. Frequência e assiduidade
Não deixe que o estado momentâneo do tempo impeça-o de sair. A natureza acontece quer esteja chovendo, fazendo sol ou nevando, no meio da ventania ou num belo dia de sol. E o objeto de estudo deve ser observado em todas as situações possíveis para possamos conhecê-lo com mais precisão e para que nossas descrições sejam  fidedignas. 

9. Investigação sistemática
E mais importante, permita que o diário seja o início de uma investigação. Procure explicações do que observou, em bibliotecas, em artigos científicos, e em livros especializados sobre plantas e animais, complete as observações de campo com informações de autores que trabalham na natureza. Devemos lembrar que o diário de campo costuma ser o primeiro passo para reflexões, ensaios e dos artigos e livros sobre a investigação em curso ou depois de finalizada.

Há muitos exemplos: 
Um exemplo de uso do diário de campo foi o feito pelo naturalista, biólogo e geólogo Charles Darwin. Onde ele pesquisava sobre a natureza ao seu redor e comentava sobre o que estava acontecendo (por isso foi também considerado um cronista). Darwin, quando viajou por vários países a fim de fazer valer a sua teoria da evolução, levou consigo um diário de campo.

Nesses diários, o naturalista anotou dados científicos e também observações suas sobre as experiências naquelas lugares. Assim, suas obras apresentam informações cientificas e também ver informações pessoais (reflexões ou comentários) sobre o contexto de suas pesquisas.























Imagens retiradas de um dos meus diários de campo do ano de 1988.



2. SKETCHBOOK OU CADERNO DE DESENHO

Um SketchBook ou caderno de desenho (para esboços e ideias) é um livro ou bloco com páginas em branco para desenhar e é frequentemente usado por estudantes e artistas para desenhar ou pintar como parte de seu processo criativo. Alguns também usam o cadernos de desenho (sketchbook) como uma espécie de modelo ou esboço e até mesmo projeto para suas futuras obras de arte. O sketchbook é um livro de folhas em branco usado essencialmente para o registro de ideias e criações, descrição e imaginação.

A exposição de cadernos de desenho no Fogg Art Museum da Universidade de Harvard em 2006 sugeriu que havia duas categorias amplas para classificar os esboços: cadernos de observação e cadernos de invenção (WP)

Observação: concentra-se na documentação, registro do mundo externo ou mundo natural, e inclui muitos estudos de viagens e da natureza e esboços que registram peculiaridades, curiosidades e modos de vida (tanto da natureza, quanto da sociedade) de cada local, captadas nas viagens de um artista.

Invenção: acompanha as digressões, reflexões, críticas e viagens internas (psicológicas) dos artistas à medida que desenvolvem ideias composicionais. Registram sua percepção do mundo, criatividade e crítica. 

Segundo pesquisadores, os cadernos de desenho começaram como uma forma de fornecer papel de desenho prontamente disponível na forma conveniente de um livro, para registro. 

O acabamento do trabalho encontrado no caderno varia muito dependendo do artista, do detalhamento que quer dar a ideia ou “registro da paisagem” e de seu estilo de trabalho, sendo que alguns possuem desenhos e anotações muito simples, e outros possuem imagens altamente trabalhadas. 

Com o tempo, poderá permitir que outros vejam o progresso do artista, à medida que o seu estilo e competências se desenvolvem. Muitos artistas personalizam seus cadernos decorando as capas. Às vezes, os esboços são removidos dos cadernos posteriormente.

Cadernos confeccionados em papel de alta qualidade, diferenciados por gramatura (referente à densidade das folhas) e granulação, permitem a utilização de diversas técnicas, desde desenhos a lápis, lápis de cor, para caneta e tinta, lápis de cor aquareláveis e aquarela e assim por diante. 

Certas características do papel podem ser mais desejáveis ​​para uso com determinados meios. Por exemplo papéis com gramatura baixas menores do que 100g/m2, não são adequados para técnicas aquosas. 

O papel para caderno vem em uma variedade de tons, que vão do branco puro ao creme, e inclui variedades menos comuns, como o cinza.

Nas mostras de arte contemporânea, bem como nas retrospectivas históricas, registros íntimos e efêmeros são cada vez mais valorizados, resultando na exposição de cadernos de desenho ao lado de obras “acabadas”.









Fonte


https://monique-belfort.blogspot.com/2014/
































Ciência 





ARTE SENSORIAL

9ºANO   TERCEIRO TRIMESTRE 2024 ARTE SENSORIAL PROCESSOS DE CRIAÇÃO / MATERIALIDADE "... quem somos nós, quem é cada um de nós senão um...