JEAN-MICHEL BASQUIAT: O GRITO DAS RUAS NAS GALERIAS
Jean-Michel Basquiat (1960-1988) foi um furacão criativo que transformou a arte contemporânea, misturando graffiti, expressionismo e crítica social em obras que pulsavam com energia bruta. Sua arte, nascida nas ruas de Nova York, conquistou o mundo das galerias sem perder sua essência rebelde, tornando-o um dos nomes mais influentes do século XX. Deixou obras em pintura, gravura, grafitti, e música ao longo de sua curta vida de produção.

Jean-Michel Basquiat (22 dezembro 1960 – 12 August 1988)
Ele mal trabalhou por uma década, mas esse tempo foi suficiente para deixar sua marca na eternidade da história da arte. Suas obras impactantes clamavam com fúria contra o racismo, a hipocrisia social, a exclusão e o capitalismo. Em 12 de agosto de 1988, com apenas 27 anos, foi encontrado morto em seu loft na Great Jones Street. A autópsia confirmou sua morte como "intoxicação aguda por uma mistura de drogas". O artista morreu e nasceu o mito: Jean-Michel Basquiat, um dos artistas mais requisitados da atualidade.
Jean-Michel Basquiat
"Sua voz ainda é ouvida", disseram as irmãs Basquiat à ABC há alguns anos. "Ele falava muito alto, mas o fazia com suas obras." De fato. Hoje, seja pela dinâmica do mercado ou pela relevância contínua de sua arte, Basquiat é um dos artistas mais requisitados do mundo. O último leilão da Christie's é uma prova disso. Lá, a pintura do nosso artista "Multi-Sabores" foi vendida por 13,48 milhões de euros, um preço impressionante se acrescentarmos que em 1990 foi adquirida por "apenas" 95.000 euros.
Dizemos, que ele se tornou um mito. E um mito atual. Mas foi somente em vida que ele alcançou grande sucesso. Ele tocou uma tecla invisível que o elevou ao Olimpo da arte em ritmo acelerado. Estamos falando de um garoto talentoso que queria se dedicar aos quadrinhos e que conseguiu esgotar sua primeira exposição individual aos 21 anos. Estamos falando de um jovem que conseguiu trabalhar com muitos dos grandes marchands de sua época, como Shafrazi, Bischofberger e Gagosian. Estamos falando, em suma, de um talento nato, um artista imensurável que chegou a criar uma banda (Gray), se apresentou como DJ, conviveu com David Bowie e Madonna (ela foi sua parceira = namorada por seis meses) e estrelou um filme independente com Edo Bertoglio. Até o New York Times lhe dedicou uma capa. Artista e ícone. Criador e celebridade (abc).
Keith Haring, Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat. (1)
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Jean-Michel Basquiat (22 dezembro 1960 – 12 August 1988).
Raízes e Revolução
Basquiat começou como um adolescente escrevendo mensagens e pintando em muros e paredes sob o pseudônimo “SAMO” (abreviação de "Same Old Shit"), deixando frases enigmáticas e poéticas pela cidade.
Nos diz Saggese s/d: "Basquiat era famoso por escrever nas paredes do sul de Manhattan na adolescência, quando ele e um amigo do ensino médio, Al Diaz, deixaram mensagens enigmáticas com tinta spray sob o nome "SAMO" (sigla para "Same Old Shit" ou "Mesma Coisa de Sempre") de 1977 a 1979. Enquanto SAMO, Basquiat e Diaz escreviam máximas, piadas e profecias com marcador e tinta spray nos trens do metrô por toda a cidade de Nova York (particularmente no trem "D", que circulava entre o centro de Manhattan e a casa de Basquiat no Brooklyn), bem como nos muros e calçadas dos bairros de SoHo e Tribeca. Muitos dos locais onde os escritos de SAMO eram encontrados ficavam próximos a galerias de arte proeminentes. Combinadas com essas posições estratégicas, frases como "SAMO COMO O FIM DE BRINCAR COM ARTE" ou "SAMO PARA A CHAMADA VANGUARDA" apresentavam a persona "SAMO" como algo externo ao mundo da arte comercial e crítico a ele. De fato, mesmo depois de abandonar a persona SAMO e emergir no mundo da arte como Jean-Michel Basquiat, o artista permaneceu um estranho ao mundo da arte convencional, apesar de sua ascensão meteórica no bloco de leilões de arte." (smarthistory)
Junto com essa produção ele fazia pequenos cartões postais com colagens com palavras e as vezes frases com profundo significado. Além dessa produção visual ele tocava clarinete e sintetizador. Era membro da banda Gray, onde experimentava com sons e vinha de uma linha de artistas de jazz.
Sua transição para as telas trouxe consigo a urgência das ruas: suas pinturas eram cheias de rabiscos, palavras riscadas, figuras distorcidas e símbolos
repetidos, coroas, caveiras, carros em chamas. Tudo isso em cores vibrantes, como se gritasse em óleo e tinta acrílica.
Temas que Explodem na Tela
• Identidade e Luta Racial: Basquiat celebrava heróis negros, como os jazzistas Charlie Parker e Dizzy Gillespie, enquanto denunciava o racismo. Em "Defacement (The Death of Michael Stewart)" (1983), ele retratou a morte de um artista negro espancado pela polícia.
• Capitalismo e Poder: Coroas (símbolo de realeza ambíguo), cifrões e corporações apareciam como críticas à ganância.
• Cultura Pop e História da Arte: Ele misturava referências ao Mickey Mouse com citações a Leonardo da Vinci, criando uma colagem de alta e baixa cultura.
Um Estilo Inconfundível
Basquiat pintava como quem escreve um diário em público:
• Textos fragmentados: Palavras como "HERÓI", "OURO" ou "VENENO" surgiam como pistas de um quebra-cabeça.
• Figuras esquemáticas: Corpos desproporcionais, rostos como máscaras tribais, olhos arregalados.
• Técnica crua: Camadas de tinta, rabiscos infantis e manchas intencionais davam vida a telas que pareciam vivas.
Um Legado que Nunca Morre
Sua morte precoce, aos 27 anos, transformou-o em um mito, mas sua obra permanece atual:
• Recordes em leilões: Em 2017, *"Untitled"* (1982) foi vendido por US$ 110,5 milhões, um marco para um artista negro.
• Influência cultural: Da moda (collab com a Louis Vuitton) ao hip-hop (Jay-Z, Kanye West o citam em letras).
• Inspiração para novos artistas: Basquiat provou que a arte pode vir das ruas e abalar os museus.
Mais que um Artista, um Símbolo
Basquiat foi um “xamã urbano”, traduzindo a angústia, a raiva e a beleza de ser negro, jovem e genial em um mundo que tentava ignorá-lo, silenciá-lo e se possivel eliminá-lo. Sua arte, caótica e lírica, continua a desafiar: ela não pede licença, ela ocupa espaço.
"Eu não penso sobre arte quando estou trabalhando. Eu tento pensar sobre a vida." (Jean-Michel Basquiat).
Jean-Michel Basquiat, Irony of negro policeman (1981).
Acrílico, pasteis e óleo sobre tela.
Uma das obras mais famosas de Basquiat, Ironia do Policial Negro carrega mensagens sociais evidentes. Aqui, não existe um recado sutil nem uma insinuação: o pintor tece duras críticas às práticas racistas que vigoravam (e ainda vigoram) nos Estados Unidos e em quase todos os recantos do mundo.
Negro e filho de imigrantes, Basquiat não tinha medo de "meter o dedo na ferida" e confrontar a sociedade norte-americana com suas falhas e preconceitos. O quadro em análise, que combina grafite e pintura expressionista, apresenta um indivíduo no centro. O seu chapéu, que se assemelha a uma gaiola, o identifica como um agente da Polícia.
Nos Estados Unidos da América, como em outros países, as forças policiais são conhecidas pela sua brutalidade, sobretudo com os cidadãos negros. A dualidade de padrões e a violência da autoridade têm sido denunciadas em massa nas últimos anos com o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). No começo da década de 1980, Basquiat já estava alertando para estas questões, se perguntando por quê um homem negro se juntaria a uma polícia racista. A profissão, neste caso, é vista como uma outra forma de domínio e opressão. Isso fica explícito com a palavra "pawn" (peão, alguém que é manipulado) no canto inferior direito.(Marcello s/d).
Essa obra dialoga com outras do pintor que exacerbam a truculência policial contra homens negros no Baixo Manhattan oitentista, mas destaca-se por seu crivo específico de denunciar a alienação do elemento oprimido que empenha-se em trocar de lado e se tornar opressor. Desta vez, o policial também é negro. Na parte inferior à direita, o termo “pawn” (“peão”) situa esses indivíduos como “operários” voluntários e sistemáticos contribuindo com seu empenho para a manutenção de um sistema opressor. Mas não é só praticando a violência nem vestindo uma farda que isso pode acontecer. Como a obra de arte é dinâmica e seu sentido tem amplitude, em linhas gerais essa crítica se estende a todo tipo de subserviência ou “benefício próprio” que muitos obtêm de sistemas opressores, quando não se sentem incomodados ou ameaçados - antes privilegiados - por eles. São “peões” que, sob a justificativa do “trabalho”, aderem ao sistema de forma seletiva, silenciam diante de fatos escusos. E tornam-se co-participantes, servis e empregados do poder que oprime e mata.
A crítica de Basquiat estava contextualizada à morte de Michael Stewart, um jovem negro espancado por vários policiais em um ponto de ônibus da Quinta Avenida de Nova York, a qual ele retratou em outra obra, “Defacement”. Após a morte do jovem ficar impune, o artista expõe o contrassenso de outros homens negros integrarem ou serem co-participantes da mesma violência.(Rainho)
Após sua morte prematura, com apenas 27 anos de idade, o artista Fred Brathwaite escreveu o que talvez tenha sido seu melhor epitáfio: "Ele viveu como uma chama. Queimou intensamente. Então o fogo se apagou. Mas seu brilho ainda arde intensamente." E continua nos esquentando (abc).
Jean-Michel Basquiat et Andy Warhol, 6,99, 1984. Estate of Jean-Michel Basquiat Licensed by Artestar, New York. The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. / ADAGP, Paris 2022.
Jean-Michel Basquiat et Andy Warhol, Untitled (collaboration no.23)/Quality, 1984-1985. Estate of Jean-Michel Basquiat Licensed by Artestar, New York. The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. / ADAGP, Paris 2022.
Jean-Michel Basquiat et Andy Warhol, Untitled (collaboration no.23)/Quality, 1984-1985. Estate of Jean-Michel Basquiat Licensed by Artestar, New York. The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. Paris 2022.
Jean-Michel Basquiat. Acrílico, tinta a óleo em bastão e pastel sobre tela.
ARTE REVOLUCIONÁRIA DE
JEAN-MICHEL BASQUIAT
Objetivo da Aula
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AULA
Compreender a vida, a obra e o legado de Jean-Michel Basquiat, analisando suas influências, técnicas e impacto na arte contemporânea.
Duração: 60 minutos
Público-Alvo
Estudantes de artes visuais, história da arte ou interessados em cultura urbana e contemporânea.
1. Introdução (10 min)
Contexto Histórico
- Breve apresentação do cenário artístico dos anos 1980 em Nova York: ascensão do grafite, da cultura hip-hop e do neoexpressionismo.
- Basquiat como um dos primeiros artistas negros a alcançar reconhecimento internacional no mundo da arte elitista.
Biografia Rápida
- Nascido em 1960 no Brooklyn, filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha.
- Início como grafiteiro sob o pseudônimo "SAMO" (com Al Diaz).
- Transição para as galerias e colaboração com Andy Warhol.
- Morte precoce em 1988, aos 27 anos.
2. Características da Obra de Basquiat (20 min)
Temas Principais
- Identidade e Raça:
Representação de heróis negros (como boxeadores e músicos de jazz) e críticas ao racismo.
- Crítica Social:
Símbolos de poder, capitalismo e opressão (coroas, dólares, esqueletos).
- Cultura Pop e História da Arte:
Referências a Disney, anatomia humana e mestres como Leonardo da Vinci.
Estilo e Técnica
- Uso de cores vibrantes e pinceladas gestuais (influência do expressionismo abstrato).
- Textos e Palavras: Frases fragmentadas, poesia visual e jogos de linguagem.
- Suportes Diversos: Telas, portas, objetos encontrados e até roupas.
Atividade Interativa
- Mostrar imagens de obras como "Untitled (Skull)" (1981) ou "Hollywood Africans" (1983) e pedir que os alunos identifiquem símbolos e palavras.
3. Influências e Legado (15 min)
Fontes de Inspiração:
- Grafite urbano e cultura de rua.
- Jazz (Charlie Parker, Dizzy Gillespie).
- Artistas como Cy Twombly, Pablo Picasso e Dubuffet.
Impacto Cultural
- Basquiat como ícone da contracultura e ponte entre a periferia e o establishment artístico.
- Influência em marcas de moda (como a colaboração póstuma com a Louis Vuitton).
- Presença em leilões: em 2017, "Untitled" (1982) foi vendido por US$ 110,5 milhões, tornando-se uma das obras mais caras da história.
4. Debate e Reflexão (10 min)
Perguntas para Discussão:
- Por que Basquiat continua relevante hoje?
- Como sua obra desafia as estruturas do mundo da arte?
- É possível separar a lenda (o "artista maldito") da qualidade de sua obra?
Atividade Prática
- Propor a criação de um desenho ou colagem usando elementos basquiatianos (símbolos, textos rabiscados, cores fortes).
5. Conclusão (5 min)
- Resumo dos pontos-chave.
- Recomendações: documentários ("Boom for Real", 2017) ou exposições virtuais.
- Enfatizar a mensagem de Basquiat: "A arte é como um jogo, mas um jogo sério."
Livros:
Basquiat: A Quick Killing in Art. Phoebe Hoban.
- Filme: “Basquiat” (1996), dirigido por Julian Schnabel.
Avaliação:
Participação no debate e exercício prático (se aplicável).
Observação
Adaptar o conteúdo conforme a faixa etária ou conhecimento prévio da turma. Para alunos mais jovens, foque na visualidade e na história de vida do artista.
Fonte
Rainho, H. R. Imagem e memória em um olhar estratégico sobre o legado de Jean-Michel Basquiat. Mosaico – Volume 13 – Nº 20 – Ano 2021.
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