terça-feira, 10 de setembro de 2024

ARTE SENSORIAL

9ºANO 
TERCEIRO TRIMESTRE 2024

ARTE SENSORIAL
PROCESSOS DE CRIAÇÃO/MATERIALIDADE


"... quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis."
(Ítalo Calvino, 1990b. Seis propostas para o novo milênio)

"E o anjo no trono: Só tens de escolher de que poço queres beber, indicando-lhe dois poços iguais que se abrem na praça deserta. Basta olhar-se para o jovem para compreender que ele se sente novamente perdido. A potência coroada agora brande uma balança e uma espada, atributos do anjo que vela sobre as decisões e os equilíbrios, do alto da constelação da Libra. Será, pois, que também na cidade do Tudo só se é admitido por meio de uma escolha e de uma recusa, aceitando uma parte e renunciando ao resto? (...) dois caminhos distintos que se abrem para quem ainda está a procura de si mesmo: O caminho das paixões, que é sempre uma via de fato, agressiva, de cortes nítidos, e o caminho da sabedoria, que requer reflexão e um lento aprendizado." 
(Ítalo Calvino, 1991. O castelo dos destinos cruzados)



O que é arte sensorial?

A arte sensorial, o que é e para quem?
A arte sensorial é a arte que envolve os sentidos, ora, o olhar não é um sentido? Sim, claro que é. Mas a arte sensorial no sentido amplo, baseia-se na concepção de que a experiência artística pode ir e vai além da contemplação passiva somente de um aspecto da obra de arte; i.e., vai além do aspecto visual.

(Leia o artigo de Mendes (2019) sobre Marcel Duchamp e Jeff Koons)

Obras sensoriais são produções em tela ou qualquer outro suporte, onde a obra é feita em alto relevo com o objetivo de atender especificamente as pessoas com deficiência visual. São poucos detalhes, mas com uma amplitude de significados. Por conta disso, as obras não podem ser muito abstratas; devem ser o mais concreto possível, oferecendo sentido por meio do toque (tato). (oestadoonline).

A arte sensorial busca romper barreiras entre a obra de arte, o artista e o público, convidando o espectador a se envolver e interagir de forma ativa, tanto na produção quanto na interpretação e nas sensações que o objeto de arte propõe.
Através da imersão do corpo e dos sentidos, a arte sensorial proporciona um espaço para a exploração individual e a descoberta de novas perspectivas.

Arte sensorial (1)

A arte sensorial se insere na Arte contemporânea e redefine-a, uma vez que propõe a  interação ativa do observador/fruidor e do objeto de arte. Ela amplia os limites da expressão artística, permitindo que o indivíduo expectador/fruidor, se torne parte integrante da obra, torne-se, coautor. Ao envolver os sentidos, a arte sensorial cria uma experiência completa e pessoal, redefinindo a relação entre artista, obra e público. Nesse momento o expectador e a obra (a ideia do artista) são uma única entidade.

A arte sensorial é múltipla, multicultural, histórica, abrange e aborda as mais diversas tecnologias, desde as mais simples às mais complexas e elaboradas (desde o desenho até a arte digital e computacional) e rompe com materiais considerado históricos, nobres ou tradicionais.

A arte deve carregar olhares e proposições colocadas pelos artistas da atualidade relacionado com a vida cotidiana, social, cultural e romper assuntos e questões (pré-estabelecidas e preconcebidas), convidando o espectador às mais diversas interpretações, olhares, significados, coautoria e experiências (modificado de Souza, 2021).

Para o filósofo Arthur Danto (2006) o contemporâneo tem uma perspectiva de desordem informativa, não existe um limite histórico, ou seja, tudo é permitido. De acordo com Cocchiaralle (2006) a arte contemporânea difundiu-se para além de um campo único e especializado, foi sendo construído pelo modernismo e passou a buscar uma interface dialogando com todas as outras linguagens da arte e, mais, com a própria vida, tornando-se para além disso, uma coisa entremeada por outros temas que não são propriamente da arte.

(Leia o artigo sobre a arte de Julio Le Parc no blog galerialiviadoblas)

Assim, para alcançar seus objetivos, arte sensorial utiliza uma ampla variedade de técnicas e mídias para criar experiências ricas e sensoriais. Pintura, escultura, instalações, performances e até mesmo a gastronomia são exploradas nessa forma de expressão artística. Além disso, materiais como texturas, aromas, especiarias, sons e até mesmo alimentos podem ser incorporados às obras de arte sensoriais, ampliando ainda mais a gama de estímulos sensoriais proporcionados pelo objeto estético que é a obra de arte.

Dessa forma, segundo Pareyson (1989) “separar a matéria de sua obra é impossível. A matéria é insubstituível: a obra nasce como a adoção de uma matéria e triunfa como matéria formada.” (Salgado, 2010)

Podemos pensar que os materiais usados para construir a obra que será fruída, são o esqueleto, os músculos, a carne e a pele da obra de arte, e o movimento que deve ser percebida pelos nossos cinco sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato.

J. J. Gibson (1966) trouxe uma nova visão à abordagem clássica de percepção, demonstrando que a percepção é um processo ativo que envolve todo o ser em constante interação com o ambiente. 

Um odor, ou perfume ou gosto pode relacionar diversos sentidos mobilizando-os ou resgatando vivencias e criando novos sentidos e interpretações. Desta forma, a Arte sensorial deve colocar "em jogo" ou ativar esse universo de significados tornando o expectador-fruidor um co-autor da obra agora ampliada pelos novos desdobramentos da ideia do artista.

Na arte sensorial não há necessidade de que a obra de arte construída por nós aborde todos os sentidos de uma vez. Podemos construir obras de arte que privilegiem o tato, ou o olfato, ou a audição ou dois ou mais sentidos etc.


FAÇA VOCE MESMO ARTE SENSORIAL

Você não precisa ser um artista reconhecido para criar sua própria obra de arte sensorial. A arte sensorial pode ser explorada em projetos pessoais, permitindo que você experimente e se conecte com seus próprios sentidos.

Experimente combinar diferentes materiais, texturas e cores, e convide outras pessoas para interagir com sua criação. Lembre-se de que a arte sensorial é uma expressão individual, o que não impede de trabalhar em grupo, e não há regras rígidas a seguir. (ceugaleria).

Para entendermos a arte sensorial podemos partir de uma perspectiva histórica, e tentar apreender seus cânones, e suas proposições. 
A seguir são apresentados alguns artistas que usam a arte sensorial para construir suas obras de arte. Inspire-se nesses artistas para as suas construções que iniciaremos a partir dessa semana.


1.
Lygia Clark

Lygia Clark (Lygia Pimentel Lins, Belo Horizonte, Minas Gerais, 1920 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1988) é um dos mais importantes nomes da arte brasileira contemporânea, parte de uma geração responsável por ampliar as linguagens, estabelecer vínculos com as questões socioculturais e engajar todas as pessoas, sendo artistas ou não, na experiência transformadora de criar. Gradualmente seu trabalho passa do suporte bidimensional a experiências tridimensionais e processuais
Na Pinacoteca, destaca-se a presença da artista na coletiva Projeto construtivo na arte Brasileira (1977) e na individual Da obra ao acontecimento (2005-2006). Lygia é conhecida por seu trabalho inovador e por sua contribuição significativa para o mundo da arte. A última exposição institucional da artista no Brasil, Lygia Clark: uma retrospectiva, aconteceu em 2012, no Itaú Cultural.

Lygia Clark. A artista se inscreveu na história da arte insistindo que as pessoas deviam entrar em contato com o próprio corpo e ao longo de sua carreira traçou uma trajetória de objetos sensoriais, relacionais até a experiência do self.

Clark teve uma infância marcada por influências artísticas e culturais, ela cresceu em uma família que valorizava a arte e a criatividade. Seu pai era engenheiro e sua mãe era pianista, e quando ainda adolescente estudou escultura com Roberto Burle Marx, um renomado paisagista e artista plástico brasileiro. Ela também se envolveu com o Movimento Modernista e teve a oportunidade de conhecer artistas influentes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. No início de sua carreira artística, ela foi influenciada pelo construtivismo e pelo neoconcretismo, movimentos que valorizavam a abstração geométrica e a experimentação formal.

Obras neoconcretas de Lygia Clark. Óleo sobre tela.

Lygia Clark, Espaço modulado Nº 4. óleo sobre tela. 1958.

Clark também desenvolveu um interesse pela arte cinética, explorando a interação entre o espectador e a obra de arte. Uma das principais características do trabalho de Lygia Clark era o uso de materiais não tradicionais, como tecidos, arames e objetos cotidianos. Ela acreditava que a arte deveria estar acessível a todos e que as pessoas deveriam ser capazes de interagir fisicamente com as obras. Suas esculturas e instalações frequentemente convidavam o espectador a tocar, manipular e até mesmo vestir as peças, criando assim uma experiência sensorial única. Lygia Clark também explorou a relação entre o corpo e a arte, desenvolvendo técnicas terapêuticas que utilizavam a arte como forma de expressão e cura. Ela acreditava que a arte poderia ser uma ferramenta poderosa para explorar a subjetividade humana e promover o bem-estar mental e emocional.

Ao longo de sua carreira, Lygia Clark produziu uma vasta gama de obras de arte que abrangiam diferentes mídias e técnicas (pinturas, esculturas, instalações e performances). Suas obras mais conhecidas incluem “Bichos”, uma série de esculturas dobráveis em metal que permitiam ao espectador criar formas e composições personalizadas; e “Nostalgia do Corpo”, uma série de experimentos terapêuticos que exploravam a relação entre o corpo e a arte.

“Bichos” é considerada uma das principais contribuições de Clark para o movimento neoconcreto. As esculturas eram feitas de chapas de alumínio cortadas e articuladas, permitindo ao espectador manipular e transformar as formas de acordo com sua vontade. Essas obras desafiavam a ideia tradicional de escultura estática e proporcionavam uma experiência interativa única. (artsoul).


Lygia Clark, em 1963, disse que gostaria que as proposições de sua série Bichos não eram para ir para museus ou galerias, mas para serem vendidas em todos os lugares, inclusive nas esquinas, por camelôs. Ela queria que fossem feitos vários dos objetos para e que fossem precificados de modo que várias pessoas pudessem adquirir, democratizando o acesso à sua arte. (artequeacontece)

A obra Caminhando (1964), trabalho que representa um momento crucial da carreira de Clark, quando a artista rompe com a noção de autoria convidando o público, a partir de uma série de instruções, a cortar uma tira de papel em formato de uma fita de Moebius, levando-nos a considerar a obra como "puro ato".

A partir de meados da década de 1960, a artista realiza seus "Objetos relacionais", feitos de material simples e ordinário, em busca de um reencontro sensorial entre sujeito e mundo. A obra Pedra e ar (1966), foi o primeiro objeto relacional desenvolvido pela artista, a instalação "A Casa é o corpo", criada para a Bienal de Veneza de 1968.

Materiais usados pela artista
Materiais não tradicionais, como tecidos, arames e objetos cotidianos que permitem o toque e até mesmo vestir a obra.

(1)

Bicho (2)

Lygia Clark, Projeto para um planeta, 1960. (3)

Maquete para interior nº 2. (4)

Maquete para interior nº 2. (4)

Bichos 

Bibho (khanacademy)


Pedra e ar

Pedra e ar

Pedra e ar

Bicho (máquina) (artsandculture)

Obra mole n. 1. 1964. (1)




2.
Hélio Oiticica

Hélio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 – Rio de Janeiro, 22 de março de 1980) filho de Ângela Santos Oiticica e de José Oiticica Filho, fotógrafo, pintor, entomologista e professor. Seu avô, José Oiticica, que foi professor, filólogo e anarquista, é o autor do livro O Anarquismo ao Alcance de Todos (1945) (Frazão, 2022).

Hélio recebeu suas primeiras lições em casa com os seus pais. Em 1954 mudou-se com a família para os Estados Unidos, quando seu pai recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim.

De volta ao Brasil, em 1954, Hélio e seu irmão César Oiticica ingressam no curso de pintura e desenho de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nesse mesmo ano escreveu seu primeiro texto sobre artes plásticas.

Entre 1955 e 1956, integrou o Grupo Frente, Grupo Concretista que contava com a adesão de artistas importantes como Ivan Serpa, Lígia Clark e Lygia Pape, todos ligados ao Concretismo.(Frazão, 2022)

Um dos primeiros trabalhos realizados por Oiticica foi a série “Metaesquemas” (1956-58) quando elaborou mais de 400 pinturas, em pequeno formato, realizadas em guache sobre cartão, nas quais o artista fez experimentações com cores, formas abstratas geométricas e com o espaço.

Metaesquema 1958.

Na série Metaesquemas, Oiticica desenvolveu suas ideias as quais descreveu como “uma dissecação obsessiva do espaço” por meio da cor. A série compreende mais de 350 obras; o seu título combina as palavras portuguesas "meta": além da  e "esquema": estrutura. Oiticica considerava essas obras como “algo intermediário que não é pintura nem desenho”. É antes uma evolução da pintura”. Ao reduzir seu vocabulário a uma série de formas monocromáticas, principalmente quadrados e retângulos, Oiticica cria uma interação entre as formas e seu fundo que gera uma sensação de instabilidade e movimento, desafiando sua bidimensionalidade.

Isto é parcialmente conseguido através da utilização do “efeito espelho”. Qualquer sequência rítmica que o artista consiga num lado da grelha, ele repete no outro lado. Isto cria uma composição dinâmica e um sentimento de ambivalência sobre quais são as formas pintadas (as “figuras”) e quais são as áreas intermediárias (o “fundo”). No final de 1958, esta série evoluiu para composições preto/branco, azul/branco, vermelho/branco e branco/branco nas quais quadrados, retângulos e até mesmo a grade foram eliminados. A série de pinturas branco sobre branco representa ao mesmo tempo o fim de uma etapa de investigações cromáticas e um novo começo para o artista (azurebumble)

Metaesquema séries 1957-58. 293 x397 mm

A série Metaesquemas revela o espírito das investigações abstrato-concretas realizadas por Hélio Oiticica durante sua participação em 1955 e 1956 no Grupo Frente, fundado no Rio de Janeiro por Ivan Serpa com Aluísio Carvão e Lygia Pape, entre outros. Oiticica havia iniciado seus estudos de arte no Curso Livre de Pintura de Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954. Em 1956, quando acabara de completar 20 anos, começou a produzir seus Metaesquemas. Composta por mais de 400 trabalhos, a série consiste em exercícios metódicos, em pequeno formato, em sua maioria em guache sobre cartão, privilegiando experimentações com cores (preto, vermelho, amarelo, azul e verde), formas abstratas geométricas e espaço. (mam)

Os Metaesquemas de 1956 a 1957 apresentam formas como trapézios, losangos, retângulos, quadrados. As figuras parecem passear pelo papel, em alguns casos de forma ordenada pelo movimento de rotação ou explosão. Em outros casos, as formas tomam direções independentes das demais na composição, apontando para lados distintos, reforçando uma sensação de ruptura do plano da imagem.

Nos últimos trabalhos da série, feitos em 1957 e 1958, o artista explora, sobretudo, o retângulo e o trapézio, tanto em configurações chapadas de cor quanto em formas compostas por grossas linhas coloridas. O formato original desses elementos geométricos é esgarçado, dando maleabilidade às figuras, o que agrega mais movimento às composições. No entanto, o aspecto extraordinário e de fato dançante dessas formas se dá quando elas roçam umas nas outras, tocando-se levemente, e quando são dispostas de forma assimétrica, criando vibrações e ritmos, encontros e desencontros.(mam)

Metaesquema I, 1958. 52x64 cm. (encoclopedia)

Metaesquema (1958), de Hélio Oiticica, guache sobre cartão, 68 x 50 cm, Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, doação Fininvest. Foto Vicente de Mello (Frazão, 2022).

Hélio Oiticica foi um pintor, escultor, e artista performático de aspirações anarquistas. É considerado um dos maiores artistas da história da arte brasileira.

Hélio Oiticica buscou a superação da noção de objeto de arte como tradicionalmente definido pelas artes plásticas até então, em diálogo com a Teoria do não-objeto de Ferreira Gullar. O espectador também foi redefinido pelo artista carioca, que alçou o indivíduo à posição de participador, aberto a um novo comportamento que o conduzisse ao “exercício experimental da liberdade”, como articulado por Euma Maria. Nesse sentido, ocorre uma passagem do entendimento de arte contemplativa para a arte que afeta comportamentos, que tem uma dimensão ética, social e política, como explicitado no texto "A Declaração de Princípios Básicos da Nova Vanguarda", publicado em 1967 no catálogo da exposição Nova Objetividade Brasileira ocorrida no MAM-RJ (WP).

Entre os anos de 1960 a 1980, Hélio Oiticica questiona o sistema das artes e propõe múltiplas ações, que vão da pintura, instalação, performance, happnings e proposições. 

Suas obras provocam, instigam e convidam o espectador a participar. O corpo se faz presente em muitas de suas obras, envolvendo os sentidos. Nesse aspecto podemos afirmar que as obras de Oiticica envolvem basicamente os sentidos como um caminho para a razão e a intelecção da arte, ampliando e enriquecendo nosso ser no mundo. 

É possível observar obras que saem definitivamente do espaço das galerias, dando assim, mais ênfase ao processo de aproximação do público, fazendo com que muitas vezes o espectador passe a ser a obra ou parte da mesma, conforme afirma Freire (2006: 21), “(…) o público, que Helio Oiticica chama de participador, é o motor da obra e assume com sua negação à passividade uma posição crítica na dimensão ética e política”. 
No ambiente onde a obra acontece, há uma pluridisciplinariedade de atividades, aonde o corpo, o objeto e a proposta se auto relacionam, é o corpo do espectador e não somente o olhar que se insere, criando uma participação ativa do espectador ao qual vai manipular e explorar em um certo espaço o objeto em si apresentado, conforme podemos observar na imagem a seguir, em que o rapaz veste o “Parangolé”, obra de Hélio Oiticica que tem como objetivo instigar a participação do público. A obra só acontece com esta participação e é no movimento que podemos perceber, cor, forma, composição (Monego, 2016).

Parangolé

Nildo da Mangueira vestindo P 15 Parangolé capa 11 – Incorporo a revolta (1967), de Hélio Oiticica. Foto Claudio Oiticica, circa 1968. (mam).

Hélio Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira em 1964. A partir da Mangueira, aprofundou suas reflexões sobre experiências estéticas para além das belas-artes, incorporando elementos corporais e sensoriais, populares e vernaculares ao seu trabalho, mediante a dança, a coreografia, a música, o ritmo e o corpo. Foi nesse momento crucial que Oiticica começou a produzir os Parangolés, que considerava “antiobras de arte”.

Na arquitetura da "favela", p.ex., está implícito um caráter do Parangolé, tal a organicidade estrutural entre os elementos que o constituem e a circulação interna e o desmembramento externo dessas construções, não há passagens bruscas do "quarto" para a "sala" ou "cozinha", mas o essencial que define cada parte que se liga à outra em continuidade”, escreveu Oiticica em 1966.

Os Parangolés são capas, faixas e bandeiras construídas com tecidos e plásticos, às vezes com frases políticas ou poéticas. Ao vestir, correr ou dançar com um Parangolé, a pessoa deixa de ser um espectador para se tornar parte da obra de arte. É a partir do samba, da dança e da rua que Oiticica rompe definitivamente com as divisões entre artes visuais, música e dança, bem como com as noções de “estilo” e “coerência estética”, chegando a sua “descoberta do corpo”. (mam)

Grande núcleo. Instalação, Hélio Oiticica.

Bilaterais. Óleo sobre madeira. 1959

Outras obras importantes desse mesmo artista: 

Seja marginal seja herói (1968), bandeira-poema de Hélio Oiticica, pintura sobre tecido, 85 x 114,5 x 3 cm, da Coleção Eugênio Pacelli. (mam)

Hélio Oiticica em 1969 com a obra B33 Bólide caixa 18, Homenagem a Cara de Cavalo (1965-1966), em madeira, fotografias, náilon, tecido, vidro, ferro, plástico e pigmento, 40 x 30,5 x 68,5 cm, que está na Coleção Gilberto Chateaubriand MAM Rio. (mam)


3.
Ernesto Neto

Ernesto Neto. Leviathan-Thot. Phanteon,Paris (2006).

Ernesto Neto. O jardim. (2003).

As obras de Ernesto Neto estão entre esculturas e instalações abstratas. O artista procurou explorar a superfície, os materiais, a relação da forma e seu simbolismo, além de aumentar gradativamente o nível do contato do público com as obras.

Materiais utilizados pelo artista:

Ernesto utiliza lycra, meia-calça feminina, algodão, poliamida, tubos de malha fina e translúcida, bolas de chumbo, polipropileno, isopor, miçangas, espumas e especiarias de diversas cores e aromas, como cravo da índia em pó e pimenta do reino moída, canela, gengibre etc.

O artista vê suas obras como extensões do próprio corpo, da própria pele; os tecidos utilizados remetem à epiderme. Ele propõe a interação do público através principalmente do toque com as superfícies macias, elásticas, que (geralmente) ficam pendentes oferecendo também as sensações de peso, força, tensão, equilíbrio.

Ernesto Neto acha interessante a existência de uma relação entre o frágil e o forte, o duro e o macio, o líquido e o sólido. Essas relações estão presentes em suas grandes instalações, que geralmente são penduradas ou presas em um teto com pé direito de grandes proporções.

As interações com a obra podem se dar de várias formas. Em algumas obras E. Neto convida o espectador a tocar; em outras, a sentar; na sequência cronológica de sua produção, vem também o convite à percepção olfativa (além da tátil); depois, os trabalhos chamados de “Naves”, são feitos para que o público penetre e caminhe pela obra.
O chamado a participação maior se dá em 2001, nos Humanóides, esculturas produzidas com o objetivo de capturar o corpo humano em seu interior, elas são “vestidas” pelo espectador. Agora, Ernesto expõe as superfícies de lycra multicoloridas, que proporcionam um universo de matéria e cor no qual o espectador pode caminhar e ficar imerso (ObichoSusPensonaPaisaGen).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.(revistacarbono).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011 e RJ, 2012.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.(revistacarbono).

Ernesto Neto. ObichoSusPensonaPaisaGen. Buenos Aires, 2011 e RJ 2012.
Material: crochê de corda de polipropileno, bola de polipropileno e pedras.
Dimensões: 7.35 x 44.65 x 21.45 m.

Ernesto Neto. Instalação


4.
Shirley Paes Leme

Shirley Paes Leme. Inside Out, 1986.

Shirley Paes Leme Paiva Arantes (Cachoeira Dourada, Goiás, 1955). Escultora, gravadora, desenhista, professora.

Realiza desenhos a partir de fumaça, arames ou gravetos, nos quais estão presentes também elementos ligados à memória de sua infância. Como aponta o historiador de arte Tadeu Chiarelli (2023), os desenhos de fumaça são o registro de uma série de pequenos gestos, que tentam reter o volátil, o efêmero. Em outros trabalhos, realiza traços com uma substância à base de frutas cítricas que, em contato com o calor de uma chama, faz aparecer linhas até então imperceptíveis. Com esse processo, que a artista denomina pirofitografia, faz do desenho um jogo que mescla acaso e vontade.

O trabalho da artista tem como objetivo a investigação do espaço, geografia humana e arquitetura vernacular são os temas fundamentais sobre os quais se debruça sua obra. Suas esculturas de materiais naturais e simples dialogam de modo poético com as construções mais tradicionais e originárias, brasileiras.

As esculturas de Shirley Paes Leme combinam formas originais com a familiaridade decorrente das técnicas populares de arquitetura e produção de objetos, ligadas à cestaria, adereços corporais e habitações indígenas ou caboclas. Em produção recente, a artista incorpora novos meios, como o vídeo e a telefonia celular, em suas instalações.


Exercícios de Arte Sensorial

1.

Uma série de plantas e cactos feitos com garrafas PET (figura acima) é uma obra de arte pertencente à artista tcheca Veronika Richterová. Ela dá uma vida nova para cada uma das garrafas PET que encontra em seu caminho. E o que certamente iria para o lixo, vira Arte. Veronika constrói peças translúcidas incríveis, desde luminárias até vasos fantásticos de plantas e cactos (Silva, 2021).

Outros exemplos

A terra mágica de Andy Goldsworthy (domingosvieira)








Andy Goldsworthy obras com objetos naturais.

José Rufino (artebrasileria)

Sutton Beres Culler (highlike, visitado em 20/03/2023).


2.
Fazendo arte reciclável 
(Usando os bichos da artista brasileira Lygia Clark)




3.
Land Art




Todo ser humano nasce criativo, mas sua criatividade vai sendo suprimida pelo cotidiano ao longo da vida. Para re-despertarmos  nossos sentidos e estimularmos nossa criatividade, convido a todos a reascender a imaginação usando a criatividade que ainda resta em nós. 
Utilizando tudo que aprendemos até agora, vamos construir um Jardim dos Sentidos, povoado de obras que promovam uma imersão sensorial a todos que dele se aproximarem. Essa obra cooperativa fara parte de uma exposição em nossa Feira de Arte, Cultura e Ciência.

O que atiça os seus sentidos? E como despertar a criatividade?

1) Construir um caminho de texturas com galhos, folhas, grama, pano seco, pano úmido, areia, brita miúda etc.. (andar de pés descalços)

2) Construir um jardim sensorial com ramos, folhas secas, sementes, grama, pedras areia etc.

3) Jardim dos perfumes, essências e fragrâncias 

4) Mesa dos sabores

5) Tato: usar materiais lisos, rugosos, frios (pedras) com diferentes formatos geométricos.








Fonte


Souza, L.C.Loiola. (2021) Linguagens e materialidades na arte contemporânea: o lugar da educação infantil e das crianças nesse debate.
Olhar de professor, Ponta Grossa, v. 24, p. 1-15, e-17748.073, 2021. https://revista2.uepg.br/index.php/olhardoprofessor.

GIBSON, James J. The Senses Considered as Perceptual Systems. Connecticut: Greenwood Press, 1966. 

GIL, José. A Imagem-nua e as Pequenas Percepções. Lisboa: Relógio d´Água, 2005.

DE LIMA, Cecília. Arte Sensorial e o sentido nu. ARJ - Art Research Journal: Revista de Pesquisa em Arte. v.8, n.1, 2021. 



































(Publicado em 29/VII/2024)




“Uma obra de arte é um significado incorporado, e o significado é tão intrinsecamente relacionado ao objeto material quanto a alma é ao corpo”6 (Danto, 2013, p. 66).

(...) "an artwork is an embodied meaning, and the meaning is as intricately related to the material object as the soul is to the body”.

ARTE E RECICLAGEM

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