sábado, 15 de junho de 2024

EXAGERANDO

EXAGERE 

Ser muito preciosista com seu desenho é paralisante. 
Veja a seguir como Gary Hume desenha flores diferentes, uma em cima da outra. 
Camadas de pétalas, caules e estames se entrelaçam magnificamente, sendo difícil decifrar onde termina uma flor e começa outra. (Leamy, 2017)

Hume é motivado pelo processo, o processo pelo qual as imagens emergem da superfície sem fazer referência ou dar espaço a narrativas, seja em suas pinturas em grande escala sobre alumínio ou em seus vigorosos desenhos a carvão em papel.

Trabalhar por cima de seu desenho fragmenta a imagem, permitindo-lhe somente vislumbrar os desenhos que estão embaixo à medida que eles são construídos uns sobre os outros. 

O produto final será mais do que a soma de suas partes. (Leamy, 2017)

Desenhar diretamente por cima do desenho que você acabou de fazer pode parecer uma ideia terrível, mas o livra da ansiedade de colocar uma marca no lugar errado e lhe permite ser muito mais expressivo. 
E, no final, pode criar algo que é visualmente emocionante e tem uma energia real. (Leamy, 2017).

Garry Hume. Untitled III (2001). MoMA. Carvão sobre canvas (71.1 x 55.9 cm).

Garry Hume. Flowers. Carvão e graffiti sobre canvas (1)

Garry Hume. Flowers. Carvão sobre canvas (1)

Garry Hume. Flowers.

Garry Hume. Flowers.


Gary Hume. Carvão sobre papel, 2001.

Andy Warhol, Campbell’s soup can and dollar bills, 1962. Lápis e aquarela (61X45,7 cm). 

Gary Hume é mais conhecido por suas pinturas figurativas e abstratas em painéis de alumínio, que geralmente apresentam combinações de cores surpreendentes feitas com tinta esmalte doméstica de alto brilho. Ele desenvolve suas imagens tanto a partir da memória pessoal quanto de imagens encontradas. Retratando motivos que vão desde flores a animais, celebridades e retratos de amigos e familiares, o seu trabalho explora a capacidade da pintura de produzir simultaneamente beleza e prazer, juntamente com empatia, melancolia e um sentimento de perda. “Não há processo catártico na pintura”, disse ele. “Só tenho prazer enquanto há um problema e resolvo. E então, é claro, assim que isso for feito, preciso criar outro problema.” Gary Hume (n. 1962) representou a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza em 1999 e na Bienal de São Paulo em 1996, mesmo ano em que foi indicado ao Prêmio Turner. Seu trabalho foi objeto de uma exposição individual na Whitechapel Art Gallery, em Londres, em 1999, e em 2001 foi eleito para a Royal Academy. Desde então, ele fez exposições individuais em instituições de toda a Europa, incluindo a Kestnergesellschaft em Hanover, a Tate Britain em Londres, a Kunsthaus Bregenz na Áustria, o Museu Irlandês de Arte Moderna em Dublin, a Modern Art Oxford e o Museu Dhondt-Dhaenens em Deurle, Bélgica. Hume vive e trabalha em Londres e em Accord, Nova York. (matthewmarks)



Mel Bochner, Number Two, 1981.
Carvão e giz de cera (233,7 X 187,9 cm).

Desenho de estudante. Richard Stockton College. 
Carvão (76,2 X 56,4 cm)


Leia também

DESENHO DE UM MINUTO

EM UM MINUTO


“Se você pudesse dizer em palavras, não haveria necessidade de pintar”.
(Edward Hopper)

"Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos, ou pudessem desenhar com as mãos e fazer obras como as dos homens, representariam os deuses, o cavalo semelhante aos cavalos, o boi aos bois, e fariam corpos  como os seus próprios".
(Heráclito de Éfeso)

Capa do livro: Desenhe! Piyasena e Philip (2015)

Embora uma das funções do ensino de desenho sempre tenha sido atingir uma meta, a representação de uma realidade, com um objetivo específico, trata-se do primeiro contato com o desenho e, ainda, de iniciar uma relação mais primordial, de descoberta entre suporte, gesto, material. O incentivo e, consequentemente, a expectativa deste momento é de aprender desenho, explorar o suporte e material, ainda com a intenção de reproduzir fotograficamente o mundo. (Sejanes, 2009).

No entanto, o desenho, a meu ver, deve ser encarado a partir de uma abordagem inicialmente lúdica com vistas a desenvolver as habilidades necessárias à produção de uma obra, não importando o fim, mas privilegiando o meio, i.e., aquisição de habilidades como uso dos elementos básicos da linguagem visual, a percepção de detalhes, a observação criteriosa etc. 

Assim, vamos iniciar com um desenho especial, que leva apenas UM minuto.

60 segundos, somente isso! 

É muito comum para quem está iniciando a falta de confiança em suas habilidades especialmente no desenho (Piyasena & Philip, 2015).

Alguns de nós realmente acham que nunca vão conseguir desenhar. Em alguns casos, esta ideia é incutida em nossas mentes ainda na infância, quando algum comentário desfavorável em relação a um desenho prematuro pode ter gerado associações negativas. 

Agora é hora de esquecer o passado e pensar positivamente. (Piyasena & Philip, 2015).

VOCE PODE DESENHAR! 
E deve!

Você pode desenhar! Todos podemos desenhar. Como tudo na vida, essa atividade requer apenas um pouco de confiança e treino exercício para aprimorar as suas habilidades. 

O desenho rápido pode ser uma boa alternativa para livrar-se das inibições além de ser um exercício perfeito para quem tem uma vida muito ocupada. 
Leve um sketchbook, ou caderno de esboços, consigo aonde quer que você vá e faça desenhos rápidos de pessoas e coisas que estão ao seu redor. 

Esta é uma boa forma de soltar o seu desenho: procure não sofrer a cada traço. Este tipo de desenho é semelhante às notas taquigráficas de um jornalista. Registrar de maneira rápida e precisa o que você vê é uma ótima técnica a se praticar.
 
Configure o seu relógio do celular, respire fundo, relaxe e comece. 

Todos os desenhos a seguir foram finalizados por diferentes artistas (alunos) no tempo proposto. 

Todos desenharam a mesma pessoa, porém com resultados distintos. 

Observe a variedade e estilo das linhas utilizadas nas figuras. Alguns não conseguiram completar a tarefa, mas todos conseguiram pelo menos desenhar as características faciais da modelo. (Piyasena & Philip, 2015).

Desenhos de 60 segundos 





Fonte 

Piyasena, S. and Philip, B. Desenhe! Curso de desenho dinâmico para qualquer um com lápis e papel à mão. 1ª Ed. São Paulo, Gustavo Gili, 2015.(download




MITO DA ORIGEM DO DESENHO

UM MITO PARA A ORIGEM DO DESENHO 
E DA PINTURA

É um fato bem autenticado que na cidade grega da Sicyon, por volta de meados do século VII antes de Cristo, viveu a primeira mulher artista de quem temos um relato confiável que atravessou o tempo. 

Κόρα, Kora de Corinto, ou Sicyonis, (de Sycyon), floresceu por volta dos séculos VII a VI a.C. foi uma artista desenhista, pintora e escultora, filha e discípula de Boutade (1) (por isso também erroneamente chamada de Dibutade), ceramista e escultor.

Plínio, o Velho (2, 3) conta em sua História Natural que Kora (ou Calliroe) teve a intuição de traçar a sombra em carvão de seu amante que terminado seu estudo partiria para o estrangeiro, desenhando assim seu perfil refletido em uma parede pela luz de uma lamparina próxima. 
Os antigos gregos consideram esta a origem da pintura e consequentemente do desenho.

Seu pai aplicou argila nessas mesmas linhas de sombra, preservando seus contornos, e depois queimou esse perfil de argila junto com seus vasos, ladrilhos e telhas que era seu oficio fazer. Assim nasceu a escultura de argila em relevo. Esta obra foi considerada o primeiro relevo cerâmico e foi preservada como presente no Nimphaeum de Corinto, por cerca de 200 anos, antes deste ser destruído por um incêndio, quando os romanos sob o comando de Lúcio Múmio Accaico saquearam a cidade em 146 aC. (4, 5)


A "Grande Biblioteca" 1859-1862; Ashmolean Museum, Oxford, obra coletiva desenhada por William Burges, com painel dedicado a Kore (Kora) ou Calliroe e seu amado (primeira no canto inferior direito), e ao lado de  Pigmalião e Galatea. (WP)

A lenda da filha de Butade, Kora (ou Kalirroe), pintura mural do pintor alemão Johann Georg Hiltensperger, presente em São Petersburgo, no Museu Hermitage, no âmbito de um imenso ciclo pictórico conhecido como História da pintura na antiguidade (1845-1848) ao longo das galerias de museu. (WP).

Ela é considerada a primeira artista e no que diz respeito à história do seu testemunho é significativo. Ela é considerada, junto com seu pai, a inventora do desenho e da escultura em argila.

Sua história tem sido contada muitas vezes, e é contada desta maneira: Kora, ou Callirhoë, era muito admirada pelos jovens de Sicyon por sua graça e beleza, das quais eles captaram apenas vislumbres fugazes através de seu véu quando a encontravam na mercado de flores. 

Por causa da atração de Kora, o ateliê de seu pai, Boutades, era frequentado por muitos jovens gregos, que aguardavam a visão de sua filha, enquanto elogiavam seus modelos em barro. Por fim, um desses jovens implorou ao modelista que o recebesse como aprendiz e, tendo seu pedido atendido, ele se tornou o companheiro diário de Kora e de seu pai. 

Como o aprendiz era habilidoso nas letras, logo converteu-se em professor e em pouco tempo tornou-se amante da encantadora donzela, que desta forma  prometeu seu amor a ele. 

A hora de o aprendiz deixar seu mestre chegou cedo demais. Quando ele se sentou com Kora na noite anterior à sua partida, ela foi tomada por um desejo ardente de ter um retrato de seu amante e, com um carvão do braseiro, traçou na parede o contorno do rosto que lhe era tão querido. 

Seu pai reconheceu instantaneamente a semelhança e, apressando-se em trazer a argila, preencheu o esboço e produziu assim o primeiro retrato em baixo-relevo! É encantador pensar que da inspiração de um afeto puro se originou uma arte tão bela, e sem dúvida a influência de Kora contribuiu muito para a fama artística que seu marido mais tarde alcançou em Corinto. 

Nesta última cidade o retrato foi preservado durante duzentos anos, e Boutades, pai de Kora (ou Kallirhoe) tornou-se tão famoso pela excelência do seu trabalho que, à sua morte, várias cidades reivindicaram a honra de ter sido a sua terra natal.





Notas

(1BUTADE, grego antigo: Βουτάδης; latim Butades, Boutades.
Ceramista de Sícyon, que desenvolveu a sua actividade em Corinto, onde, segundo a tradição, foi o primeiro a executar um retrato em relevo em barro. Na verdade, dizia-se que, depois de a filha delinear numa parede a sombra do noivo, Butades preenchia esse contorno com argila, obtendo assim uma imagem em relevo (Plin., Nat. Hist., XXXV, 141; Atenágoras, Legado por Christ., 14, p. 59 seg., ed. Além disso, B. foi o primeiro a misturar a cor vermelha com o barro, ou a utilizar o barro vermelho para trabalhos em argila, e foi o primeiro a adornar as extremidades das telhas com máscaras do rosto humano (Plin., Nat. Hist., XXXV, 152) ; que teria inspirado as decorações em terracota dos frontões do templo. (treccani).

(2) Grafia original do termo grego: ἱστορία, traduzido como: História, ou seja, "inspeção (visual)", "pesquisa", "investigação", que tem a mesma raiz da palavra οἶδα, oîda; "Eu sei (porque Eu vi)]", ligado por sua vez à noção de "ver".

(3) A história de Butades, contada por Plínio, apresenta sua filha, Kore de Sicyon, apaixonada por um nobre de Corinto, onde moravam, (...) que desenhou com carvão o perfil de sua sombra na parede, e neste perfil Butades, seu pai, modelou o rosto do jovem em barro, depois o cozinhou junto com as telhas de barro de seu ofício. Este modelo foi preservado no Nimphaeum, Ninfeu de Corinto até que Lúcius Múmmius Achaicus, ocupou aquela cidade em 146 a.C. e o Nimphaeum foi destruído em um incêndio. 
Butades também decorou as bordas dos beirais do templo com máscaras de rostos humanos, primeiro em baixo relevo (protypa), depois em alto relevo (ectypa), prática atestada por numerosos exemplos existentes. 
Plínio também nos informa que Boutades criou a coloração das obras plásticas adicionando uma cor vermelha (das obras existentes deste tipo parece ser areia vermelha, ou modelando-as com giz vermelho). Diz-se também que ele inventou uma mistura de argila e ocre vermelho, ou que introduziu o uso de um tipo especial de argila vermelha. Plínio acrescenta: "Hine et fastigia templorum orta", ou seja, as figuras de terracota criadas por Boutades foram utilizadas para decorar os frontões dos templos.


(4) Lucius Mummius Achaicus, Lúcio, Múmio Acaico, recebeu o agnome Acaico por suas vitórias sobre a Liga Aqueia, (liga Aqueia ou Acaia; os Aqueus eram chamados de Dânaos por Homero) destruindo a famosa cidade antiga de Corinto, na época uma cidade líder da Liga, como parte de sua campanha. A vitória de Múmio sobre a Liga Aqueia e o saque de Corinto colocaram Roma firmemente no controle de toda a Grécia do ponto de vista político, algo que Roma evitou fazer, embora o seu envolvimento no Oriente grego remontasse a 226 a.C., quando enfrentaram a pirataria da Ilíria. A destruição de Corinto marcou o fim da Grécia livre. (Agnome: entre os antigos romanos, alcunha honorífica que se acrescentava ao nome de alguém para destacar uma de suas virtudes ou lembrar a excelência de um de seus atos).

(5) Sousa, J.M.R. Homero sob o olhar crítico da tradição, Junho 2008. (periodicos)




Fonte

Ludwig von Urlichs, Core (1), in William Smith (curadoria de), Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology, vol. 1, Boston, Little, Brown & Co., 1867. (consultado em 15 de junho de 2024).













.

ARTE SENSORIAL

9ºANO   TERCEIRO TRIMESTRE 2024 ARTE SENSORIAL PROCESSOS DE CRIAÇÃO / MATERIALIDADE "... quem somos nós, quem é cada um de nós senão um...