segunda-feira, 17 de junho de 2024

LENDO IMAGENS II: MEMENTO MORI

LENDO IMAGENS II
MEMENTO MORI


Vanitas contemporânea gif

Certamente voce já se sentiu imortal, com a força de mil sóis, durável como o universo, eterno e invencível? Sim eu também. Todavia, sabemos que nossos corpos são perecíveis e que um dia inevitavelmente morreremos. Mas com o passar dos dias e dos anos esquecemos e agimos como se fôssemos eternos.   

Então, os antigos cristãos criaram uma forma de lembrar dessa verdade sempre presente: um dia eventualmente morreremos. Esse tipo de imagem é o mais simples e fácil de "ler" e entender. 

Esta forma de arte pretendia e em parte ainda o faz, lembrá-lo constantemente de que sua morte é inevitável e impossível de evitar e pode estar prestes a acontecer. Esse tipo de arte chama-se "Memento mori" ou "Vanitas".  

Muitos interpretam erroneamente a mensagem desse gênero de arte como uma obsessão mórbida pela morte, entretanto o Memento Mori carrega uma mensagem otimista. (Nardelli, 2023)

Desde o seu início, o símbolo era um lembrete para viver a vida ao máximo. Da Antiguidade até o século XX, a morte era vista como uma realidade meditativa que nos une a todos, em vez de algo a ser temido

Embora não seja estritamente um símbolo religioso, os afrescos da igreja às vezes apresentavam uma mensagem semelhante à do Memento Mori, incentivando os espectadores a meditarem sobre sua morte e a possibilidade de uma vida eterna feliz. Um exemplo inicial disso é a Santa Trinita de Masaccio, 1427, que apresenta um esqueleto enterrado com a inscrição: “Eu já fui como você é e o que eu sou, você também será.” (modif. Nardelli, 2023)


Masaccio,  Tommaso di Ser Giovanni di Simone, (1401 - 1428), Santa Trinitá, 1427, Santa Maria Novella, Florença.

Masaccio, 1427, Santa Trinitá, detalhe.

Masaccio, nascido Tommaso di Ser Giovanni di Simone, (21/dez/1401 - verão de 1428), foi uma artista florentino considerado o primeiro grande pintor italiano do período Quattrocento do Renascimento italiano. De acordo com Giorgio Vasari, Masaccio foi o melhor pintor de sua geração devido à sua habilidade em imitar a natureza, recriando figuras e movimentos realistas, bem como um convincente senso de tridimensionalidade. Ele empregou nus e escorços em suas figuras. Isso raramente tinha sido feito antes dele. O nome Masaccio é uma versão humorística de Maso (abreviação de Tommaso), que significa Tom "desajeitado" ou "bagunçado". O nome pode ter sido criado para distingui-lo de seu principal colaborador, também chamado Maso, que passou a ser conhecido como Masolino (pequeno/delicado Tom). Apesar de sua breve carreira, ele teve uma influência profunda sobre outros artistas e é considerado o iniciador do Renascimento italiano na pintura com suas obras em meados e no final da década de 1420. Ele foi um dos primeiros a usar a perspectiva linear em sua pintura, empregando pela primeira vez técnicas como o ponto de fuga na arte. Ele se afastou do estilo gótico internacional e da ornamentação elaborada de artistas como Gentile da Fabriano para um modo mais naturalista que empregava perspectiva e claro-escuro para maior realismo.(WP)

"Memento mori" ou "Vanitas"




Philippe Champaigne. Vanitas Natureza-Morta com Tulipa e Ampulheta, (c. 1671) metade do século XVII. Museu de Tessé, Le Mans - França

A Vanitas, como a pintura de Philippe de Champaigne acima, c. 1671, é um dos temas do gênero da natureza-morta que foi muito comum em toda a Europa no final do século XVI, por todo o século XVII (seu período áureo) e início do século XVIII

O termo Vanitas provém de um versículo do Eclesiastes, que pertence aos chamados livros sapienciais do Antigo Testamento, e parte da ideia de que tudo é vaidade: “Vaidade de vaidades, diz o pregador; tudo é vaidade” (no latim, Vanitas Vanitatum Dixit Ecclesiastes, Vanitas Vanitatum et Omnia Vanitas) (Eclesiastes, 1:2) (Witeck e Moreira, 2012).

Além dessa advertência, ainda há outras. A bíblia em seu primeiro livro, Gênesis, podemos ler: “In sudore vultus tui vesceris pane donec revertaris in terram de qua sumptus es quia pulvis es et in pulverem reverteris”. “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar”. (Liber Genesis; Vulgata Latina).

19 in sudore vultus tui vesceris pane, donec revertaris ad humum, de qua sumptus es, quia pulvis es et in pulverem reverteris”.
20 Et vocavit Adam nomen uxoris suae Eva, eo quod mater esset cunctorum viventium.
21 Fecit quoque Dominus Deus Adae et uxori eius tunicas pelliceas et induit eos.
22 Et ait Dominus Deus: “Ecce homo factus est quasi unus ex nobis, ut sciat bonum et malum; nunc ergo, ne mittat manum suam et sumat etiam de ligno vitae et comedat et vivat in aeternum!”.
23 Emisit eum Dominus Deus de paradiso Eden, ut operaretur humum, de qua sumptus est.
24 Eiecitque hominem et collocavit ad orientem paradisi Eden cherubim et flammeum gladium atque versatilem ad custodiendam viam ligni vitae.

Essa é a máxima da Vanitas: Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó voltarás. Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris.” 

Segundo Schneider (2009, p. 79), o fato de a burguesia holandesa pré-capitalista (1630 a 1670) acumular imensas riquezas levou a Igreja a difundir a mensagem de que os bens materiais não significavam mais do que simples vaidade. Este conceito passou a fazer parte da iconografia de numerosas pinturas da época. Essas obras tratavam do tema da vaidade (em latim, Vanitas) e representavam bens de luxo, conforme os novos modelos de consumo em expansão durante o final da Idade Média. Entretanto, o desejo provocado por esses objetos era esmorecido pela figura de um crânio humano, que advertia sobre a leviandade das vaidades do homem e dava ao espectador ideias em relação à brevidade da vida (SCHNEIDER, 2009, p. 79). Assim, essas pinturas chamadas Vanitas tinham um objetivo moralizador, pois funcionavam como uma advertência para a importância dada às vaidades, que se vão junto com a breve vida terrena, ou seja, o homem devia livrar-se desses bens e desejos considerados como vaidades, porque a vida que importava não era aquela vivida na Terra, mas a vida que ele encontraria após a morte, junto a Deus. Este homem deveria voltar-se para Deus durante sua passagem pelo mundo terreno, ignorando bens e desejos mundanos, para, após a morte, alcançar a salvação (Witeck e Moreira, 2012).

Memento mori é uma expressão latina que significa algo como "lembre-se de que você é mortal", "lembre-se de que você vai morrer" ou traduzido literalmente como "lembre-se da morte". Lembra-te de que somos mortais e nada que seja material tem real importância quando não desfrutado com o outro que passa fome, diríamos hoje.

Memento é o imperativo ativo da 2ª pessoa do singular de meminī, "lembrar, ter em mente", geralmente servindo como um aviso: “lembre-se!”. A palavra está ordenando para que lembremos a cada instante da vida, que a morte nos espreita em cada segundo da existência. Mesmo as rochas, e os mundos no cosmo tem um “memento”, todo ente desaparecerá um dia. É não há escapatória.
Morī é o presente infinitivo do verbo depoente morior “morrer”. Em outras palavras, “lembre-se da morte” ou “lembre-se de que você morre”, de que voce é mortal, e nada mudará isso.





Philippe Champaigne. Vanitas Natureza-Morta com Tulipa e Ampulheta, (c. 1671) metade do século XVII. Museu de Tessé, Le Mans - França. Nesse caso a Vanitas é reduzido a três elementos que corporificam três conceitos fundamentais presentes na pintura: Vida, representado pela flor de tulipa, Morte, representada pela caveira e o Tempo, representado pela ampulheta, que resumem a mensagem da obra: a transitoriedade da vida, representado pela crânio no centro da cena pictórica que literalmente significa: lembra-te da morte.

Harmen Steenwijk. Natureza-morta Vanitas. c. 1640-1650. Óleo sobre madeira, 58,9x74 cm. Museu Stedelijk De LakenhaL, Leiden.
A caveira, a música, representada pela flauta, as folhas secas, e os frutos que logo apodrecerão comidos pelos vermes, os livros (conhecimento e sabedoria) identificam esta pintura como uma representação alegórica do carácter finito e transitório de toda existência. Atrás da caveira está uma estrutura de madeira na vertical (coluna), ligado a uma trave na horizontal, que é parcialmente oculta pela margem superior do quadro. Podemos ver aqui uma referência à cruz de Cristo, sua morte e ressurreição, que na cultura cristã seria a única realidade que importa (a salvação da alma).

As Vaidades da Vida Humana, c.1645, óleo sobre madeira, 39 x 51 cm, Harmen Steenwyck, National Gallery, Londres.

A incidência da luz cuidadosamente observada e calculada, vindo do canto superior esquerdo e iluminando toda a cena, de modo a equilibrar a pilha de objetos materiais à direita. Devemos lembrar que a luz é o emblema cristão do eterno, do divino e do conhecimento. Ela ilumina o objeto central desse gênero, Vanitas, o crânio humano, que lembra nossa condição de mortais. 

A concha é um símbolo da riqueza mundana; no século XVII, devia ser um objeto raro e valioso. Mas também as riquezas são uma vaidade: “Assim como saiu do ventre da mãe, nu retornará, indo-se como veio; e nada levará do seu trabalho” (Eclesiastes 5:15). (Martins, 2018).
Além de ser um símbolo da riqueza, a concha, que sem duvida está vazia, é também um lembrete direto da mortalidade humana. Para nós, uma concha vazia tão exótica é uma curiosidade fascinante, mas não podemos afirmar que ela esteja em nosso poder permanentemente, assim como a forma de vida mais elementar que antes a habitava, também se foi. “Pois o que sucede aos filhos dos homens, o mesmo também sucede às bestas… Como morre um, assim morre o outro” (Eclesiastes 3:19) (Martins, 2018).

O cronômetro, um relógio em miniatura, não era muito preciso, mas mesmo assim era uma posse valiosa. Ele também nos lembra que nosso tempo é limitado: “Para todas as coisas há um tempo” (Eclesiastes 3:1).
A espada é um símbolo do poder mundano e indica que mesmo a força das armas não pode derrotar a morte. E por mais poderoso que seja o homem, “Aquele que é mais alto do que o mais altos está olhando” (Eclesiastes 5:8).(Martins, 2018)
No centro da natureza-morta há um crânio humano, um memento mori (lembra-te da morte). Assim como em Os Embaixadores, de Holbein, sua presença é a única referência não velada à inevitabilidade da morte. (Martins, 2018)

Os livros significam a aquisição de conhecimento e erudição, uma das características que distinguem a existência humana. Mas mesmo aqui há o perigo da vaidade: “Pois em muito saber há muito sofrer, e o que aumenta o conhecimento, aumenta sua dor” (Eclesiastes 1:18). (Martins, 2018).

Os instrumentos musicais do quadro representam o amor; a música sempre foi parte integrante do namoro e do encontro amoroso. Tradicionalmente, a charamela (uma forma medieval de oboé) e outros tipos de flauta representam a forma masculina, enquanto a forma arredondada do alaúde e de outros instrumentos de corda representa o corpo feminino. Assim representam os prazeres sensuais e eróticos da vida que a morte leva embora. (Martins, 2018).

O jarro à direita foi pintado sobre a imagem do busto de um imperador romano. O rosto do imperador teria sido uma referência aos poderes e glórias terrenas que a morte dá cabo, mas talvez o artista tenha decidido não incluir a imagem de nenhum personagem, o que viria atenuar a presença do crânio como símbolo de todo homem.
A lâmpada acaba de apagar-se, pois mal conseguimos ver um fio de fumaça. Tal como o cronômetro, é um símbolo da passagem do tempo e da fragilidade da existência humana. (Martins, 2018).

Antonio Paim (2018) Memento mori
Fotografia alternativa, Marrom de Van Dick em papel Canson.







A expressão “Memento mori” era também uma saudação utilizada pelos paulianos “Eremitas de São Paulo da França” (1620-1633), também conhecidos como “Irmãos da Morte”.

Todas as obras de arte “Memento mori” são produtos da arte cristã.

A Vanitas como expressão artística, constitui um tipo específico de natureza morta: o crânio ou caveira e as tíbias figuram como elemento central da composição e são seguidas de outros objetos que simbolizavam as vaidades:

1) da beleza (espelhos de mão, joias, e outros adornos femininos);
2) da riqueza (moedas de ouro e prata e itens valiosos em geral), jarros de prata fina, talheres de prata;
3) da sabedoria (livros, máquinas e mecanismos e instrumentos científicos);
4) das artes (quadros, esculturas, máscaras e instrumentos musicais); e
5) dos prazeres mundanos (os dados e as cartas de baralho de jogo).

Completando o conjunto de simbolismos da temática temos os motivos artísticos que representavam a passagem do tempo e a efemeridade da vida, tais como: as ampulhetas, os cronômetros, as velas apagando-se, os cachimbos ardidos, as taças de vinho derramadas e as bolhas de sabão. As flores murchando e os frutos apodrecendo, eram motivos que tanto simbolizavam a brevidade da vida como a vaidade da efêmera beleza do corpo e sua necessidades cotidianas.

Assim, esqueletos em caixões, caveiras, borboletas, flores e frutas podres, o Ceifador, um baralho de cartas, ampulhetas, buquês de flores e mesas repletas de frutas (podres), bolhas de sabão, vela acesa e/ou apagada. Esses são os elementos que foram usados pelos artistas pintores e que eram incluídos nesse tipo especial de natureza morta.

Um retrato ou uma cena bíblica unido a esses elementos simbólicos tinham a função de garantir que você não pudesse escapar de pensar, de lembrar, de ter sempre presente o fato de que você é temporário e está de passagem no mundo e, que um dia sua ampulheta ficará sem areia, (Hosein, 2019); seu jardim não mais florescerá, sua taça não receberá vinho e você também apodrecerá e só o que restará será um esqueleto.

Este simbolismo constituíu-se em uma ferramenta poderosa para fazer as pessoas refletirem sobre sua mortalidade e, como consequência, talvez viver suas vidas de maneira um pouco mais saudável, ser uma pessoa melhor ou mais gentil, ou pelo menos ter um momento em que coloque menos ênfase em suas posses e seu status social como uma medida de seu valor no mundo.

Essas obras vieram de um sistema de crença cristão e da ideia de que, se você fosse melhor, seria salvo na vida após a morte. E pode ser por isso que muitos desses “memento mori” apareceram na arte relacionada a funerais.

Quer dizer: que melhor momento para ruminar sobre sua própria morte do que quando você está de luto por outra pessoa?

E embora o termo "memento mori" em si não seja tão comum desde o período compreendido entre os séculos XVII a XIX, ainda assim vemos que essa ideia permanece bem viva até hoje.

Ainda há muita arte que tenta comunicar essa mesma ideia.

Os crânios que você vê na arte do Dia dos Mortos mexicano, o Halloween, dia das bruxas nas tatuagens e em movimentos como o punk etc, podem sim expressar esse conceito, esses aparecimentos são para lembrá-lo de que você "vai bater com as botas". Muitas tradições, incluindo o budismo e a cultura zen japonesa, ainda têm obras de arte ou poemas que desempenham a mesma função (Hosein, 2019).

Segundo Hosein (2019), há exemplos entre os artistas contemporâneos abordando esse tema em algum momento de suas carreiras.

Em 2007, o artista britânico Damien Hirst criou a escultura de um crânio coberto com mais de 8.000 diamantes, tornando-se a obra de arte mais cara da atualidade, mais de £$ 50 milhões (50 milhões de libras). Referência pouco sutil.


O crânio, segundo D. Hirst, pertenceu a um europeu de 35 anos que viveu entre os anos 1720 e 1810. As jóias custaram 12 milhões de libras (R$ 48 milhões) e, segundo o artista, foram adquiridas legalmente. Hirst nomeou a obra de “Pelo amor de Deus”

Damien Hirst

Os anéis memento mori foram manufaturados a partir do fim do século XVI e durante todo século XVII, atualmente vemos uma volta desses acessórios.

Anel com caveira e coroa (amazon)

Anel MM (memento mori) (amazon)

Anel Memento mori (etsi)

O Fédon de Platão, onde a morte de Sócrates é recontada, introduz a ideia da prática apropriada da filosofia como “sobre nada além de estar morrendo e morrer”.

Memento mori é também um conceito fundamental do estoicismo, que trata a morte como algo natural e certo, que não deve ser temido, mas sim, elaborado. Os estoicos da antiguidade clássica eram particularmente notáveis por seu uso desta disciplina, e as cartas de Séneca estão repletas de injunções à meditação sobre a morte. Séneca nos diz:

“Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens mínguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer.”

O estoico Epicteto disse a seus estudantes que quando beijassem suas crianças, irmãos, ou amigos, deviam lembrar-se da própria mortalidade, restringindo seu prazer, como fazem “aqueles que permanecem com os homens nos triunfos e os lembram de que são mortais”.

Epicteto, em grego antigo, Επίκτητος, Epíktetos.

Ἐπίκτητος, Epíktētos; c. 50 – c. 135 DC foi um filósofo estóico grego. Nasceu em Hierápolis, Frígia (atual Pamukkale, no oeste da Turquia), como escravo, e viveu em Roma até seu banimento, quando foi para Nicópolis, no noroeste da Grécia, pelo resto de sua vida. Epicteto, filósofo estoico do século I d.C., foi escravo de Epafrodito, que era secretário imperial do imperador Nero (Nero Claudius Caesar Augustus Germanicus, nascido Lucius Domitius Ahenobarbus, em 15 de dezembro de 37 d.C. – 9 de junho de 68 d.C.) e Domiciano (Titus Flavius Domitianus; 51 a 96 d.C.). Apesar de sua condição, pôde frequentar as aulas de Musônio Rufo. Mais tarde, após ser liberto, fundou uma escola em Roma, que não perdurou por muito tempo, pois Domiciano expulsou os filósofos da cidade em 89 d.C. 
Epicteto foi, então, para Nicópolis, em Éfira, onde fundou outra escola estoica, contando com muitos alunos, entre eles importantes figuras do Império Romano.
Tal como Sócrates, Epicteto nada escreveu. Sua filosofia chegou até nós por intermédio das anotações de seu discípulo Lúcio Flávio Arriano, (Arriano de Nicomedia) que registrou os ensinamentos de Epicteto em oito livros, quatro dos quais foram perdidos, que compunham as Diatribes e o Manual (Encheirídion).

Na Diatribe II.1, Epicteto compara a morte a uma máscara. Aqui Epicteto usa uma figura bastante conhecida por seus interlocutores: a máscara de um monstro, mormolykeion, μορμολύκειο, que era uma lâmia ou outro monstro feminino que morde as crianças. Tal palavra une mormo (espantalho feminino) e lyke (loba). Pode se dizer, como muitos autores, que traduzem mormolykeion por “máscara cômica”. Bally define o mesmo termo por “máscara para amedrontar crianças”. Epicteto faz uma analogia aludindo ao costume da época em que os adultos contavam histórias e usavam a máscara de Mormo como instrumentos para amedrontar as crianças e fazê-las obedecer. Elas se assustavam, pois não sabiam que se tratava de uma ficção. Por sua inexperiência, elas ignoravam a verdade e, por isso, temiam. (Dinucci e cols. 2019).

Sêneca usa a mesma figura da máscara ao abordar o medo da morte:
O que vês acontecer a meninos também se passa conosco, meninos crescidos: as pessoas que eles amam, com as quais estão acostumados, com as quais brincam, se as veem mascaradas, assustam-se. É preciso desmascarar não só as pessoas, mas as situações, e a elas devolver sua feição verdadeira. Por que diante de mim ostentas espadas e chamas e uma turba de carrascos ruidosa à tua volta? Priva-te dessa pompa sob a qual te ocultas e com a qual aterrorizas os estúpidos: tu és a morte, que um escravo meu e uma criada, recentemente, desdenharam. Por que com tanta circunstância exibes a mim, de novo, chibatas e equipamentos de tortura? Por que diferentes máquinas a romper diferentes articulações e mil outros instrumentos de trinchar pessoas pedaço por pedaço? Põe de lado essas coisas que nos deixam estupefatos. Comanda que se calem os gemidos e os gritos e a atrocidade de falas arrancadas em meio a dilacerações: és, sem dúvida, a dor que o doente de gota desdenha, que o dispéptico desafia com suas delícias, que a parturiente prova no parto. És leve se posso suportá-la (sic). Se não posso, és breve. (Cartas morais a Lucílio, 24.13-14) (Dinucci e cols. 2019).

Memento mori, uma frase latina para “Lembre-se de que (você) morrerás” é um tropo artístico ou simbólico que atua como um lembrete da inevitabilidade da morte. O conceito tem suas raízes nos filósofos da antiguidade clássica e do cristianismo, e apareceu na arte funerária e na arquitetura a partir do período medieval.

Vanitas, nas artes, é um tipo de obra simbólica especialmente associada com o gênero de pintura Natureza-morta (Still-life), do norte da Europa e dos Países Baixos, nos séculos XVI e XVII, bem no início do capitalismo nascente, e na acumulação inicial de riqueza. Qual o propósito dessa acumulação, busca de reconhecimento, fama, imortalidade? Tudo vão, tudo efêmero... 
No contexto contemporâneo, onde a tríade neoliberalismo, neoconservadorismo e neofascismo acarreta na ampliação dos processos de fetichização do real, o medo da morte e do envelhecimento é uma constante. A arte do agora deve fornecer um novo caminho.
A Vanitas revisitada seria uma saída que ampliaria a mensagem da finitude e traria elementos que possam potencializar a reflexão crítica.

O motivo mais comum são um crânio, muitas vezes acompanhado por um ou mais ossos. Muitas vezes, isso por si só é suficiente para evocar o tropo, mas outros motivos, como um caixão, ampulheta e flores murchas, significavam a impermanência da vida humana. 
Muitas vezes estes funcionam dentro de uma obra cujo tema principal é outra coisa, como um retrato, mas a Vanitas é um gênero artístico onde o tema da morte é o tema principal.
A Dança Macabra e a Morte personificada com uma foice como o Ceifador são evocações ainda mais diretas desse tropo artístico (WP).

Dança da morte ou dança macabra.
Dance of Death (15th-century fresco). No matter one's station in life, the Dance of Death unites all.

O tema "Memento mori ou Vanitas" alcançou seu ápice no século XV, onde imagens de “danse macabre", dança da morte, mostravam esqueletos ou cadáveres interagindo com figuras vivas. Essas imagens mostravam que a morte é universal, e da qual nenhum ser vivo escapa, ao mesmo tempo em que ofereciam uma visão humorística sobre os absurdos terrenos.

Vanitas

A expressão memento mori desenvolveu-se com o crescimento do cristianismo, que enfatizava o Céu, o Inferno e a salvação da alma na vida após a morte, e o acúmulo do capital seria a graça de Deus sobre os homens. Entretanto o acumulo de riquezas, prestígio e poder são nada frente eternidade bem aventurada, que era alcançada através de nossas ações aqui na Terra.

O escritor cristão do século II Tertuliano contava que durante sua procissão triunfal, um general vitorioso teria alguém (em versões posteriores, um escravo) atrás dele, segurando uma coroa sobre a cabeça e sussurrando “Respice post te. Hominem te memento” (Cuide de você [até o momento após sua morte] e lembre-se de que você é [apenas] um homem). Embora nos tempos modernos isso tenha se tornado um tropo padrão, na verdade nenhum outro autor antigo confirma isso, e pode ter sido uma moralização cristã em vez de um relato histórico preciso.

Memento mori (Lembra que morrerás). Mosaico de Pompeia (séc. I a. C.), I, 5, 2, inv. N. 109982. Museo archeologico nazionale di Napoli. Originalmente no chão da sala de jantar (triclínio) de uma casa de verão (Casa I, 5, 2, de Pompéia), este mosaico (em Estilo II [80-20 a. C.]) retrata, em uma clave alegórica e simbólica, o tema filosófico, helenístico, da transitoriedade da vida (e, consequentemente, da iminência da morte). O vértice da composição é uma libella com fio de prumo – a libella era um instrumento utilizado pelos pedreiros romanos para nivelar suas construções. O peso é um crânio (a morte). Abaixo, uma borboleta (a alma) e uma roda (atributo da deusa Fortūna). Em cada lado, suspensos e mantidos em perfeito equilíbrio pela morte, os símbolos de riqueza e poder à esquerda (o cetro e a púrpura) e à direita a pobreza (a bolsa e o cajado do mendigo). O tema deveria lembrar aos comensais a natureza fugaz das fortunas terrenas. Por fim, é notável o cuidado do mosaicista em usar tesselas de diferentes cores (e matizes) para proporcionar uma maior caracterização dos elementos da composição da representação alegórica. (Silva e Costa, 2021)

Esse mosaico romano representando a Roda da Fortuna que, ao girar, pode tornar os ricos pobres e os pobres ricos; com efeito, ambos os estados são muito precários, com a morte nunca longe e a vida por um fio: quando se rompe esse fio, a alma voa. E assim todos são feitos iguais. (Collezioni Pompeiane. Museo Archeologico Nazionale di Napoli). 

Segundo Fonseca (2012), a representação da caveira como símbolo não apenas da morte, mas da transitoriedade da vida, remonta à antiguidade clássica, onde aparece, mais comumente, com o sentido de carpe diem. Em um mosaico romano proveniente de Pompéia e atualmente conservado Museu Nacional de Nápoles (século I d. C.) representa-se um crânio sobre uma borboleta, provável alusão à transitoriedade da vida, e uma roda, atributo das deuses Tiké e Nêmesis, as quais, ambas, eram consideradas profetisas relativamente à vida humana.

A roda, posteriormente, seria associada à imprevisibilidade e instabilidade da fortuna, assim como à arbitrariedade do destino. Sobre o crânio aparece um nível de carpinteiro com sua linha e o peso cônico de chumbo; à direita, uma bolsa de couro e um bastão de pastor, e à esquerda um cetro com um manto purpúreo. A mensagem é clara: a vida é breve e a morte igualiza a todos, pobres ou ricos, um motto antigo para a frase "Mors sceptra ligonibus aequat", a morte torna igual o cetro e a enxada.

Bathel Beham (1502-1540). Omnia mors aequat.
O tema da "Omnia mors aequat" aparece diversas vezes na iconografia europeia, como por exemplo em uma linda gravura do artista alemão Bathel Beham (1502-1540), magistralmente executada, representando um bebê adormecido (ou morto) ao lado de uma ampulheta, enquanto, em primeiro plano, diversas caveiras jazem empilhadas. (Fonseca, 2012).

Na tradição poética romana, por outro lado, a meditação sobre a transitoriedade da vida desperta sentimentos de natureza hedonista, os quais atingem talvez sua máxima eloquência nos célebres versos de Horácio: “Carpe diem quam minimum credula postero”, (Horácio, Odes I, 11.8) isto é, “colhe o dia, quanto menos confiada no de amanhã” (aproveita o dia e confia o mínimo no dia de amanhã).

Horácio, Quintus Horatius Flaccus, (Venúsia, 8/XII/65 a.C. - Roma, 27/XI/8 a.C.), foi um filósofo, poeta lírico e satírico romano. (1).

No poema de Horácio, a percepção da passagem inexorável do tempo surge como um elemento de máxima potência no âmbito da construção de uma retórica da sedução: o poeta procura persuadir a amante a entregar-se ao desfrute do momento presente. Júpiter, ou uma força superior cósmica, preside tanto os movimentos do mar quanto o destino do homem; impossível é ir contra ele. O sentido do carpe diem, magistralmente sintetizado por Horácio nessa ode, possui por sua vez uma longa linhagem grega e serve como modelo para inumeráveis poemas latinos, assim como para dezenas de versos em idiomas modernos, incluindo o português.(Fonseca, 2012). Se no poema horaciano, assim como em outros momentos da lírica latina, a recordação da morte estimula o pleno fruir da vida, na tradição judaico-cristã esses pensamentos adquirem um sentido completamente distinto: a vida mundana, por ser passageira, tem pouca importância, de onde se deduz a necessidade de voltar o pensamento para a esfera puramente espiritual da existência. A assim chamada Idade Média ocidental retoma o conceito estoico do contemptus mundi, isso é, o desprezo pelas coisas mundanas: todos os bens e deleites transitórios empalidecem ante a permanência da vida espiritual. (Fonseca, 2012).

No Judaísmo várias passagens do Antigo Testamento pedem aos fiéis uma lembrança da morte. No Salmo 90, Moisés ora para que Deus ensine seu povo “a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio” (Sl 90:12). Em Eclesiastes, o Pregador insiste que “É melhor ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há festa, pois este é o fim de toda a humanidade, e os vivos o levarão ao coração” (Ec 7:1). 2). Em Isaías, o tempo de vida dos seres humanos é comparado ao curto tempo de vida da grama: “A grama murcha, a flor murcha quando o sopro do Senhor sopra sobre ela; certamente o povo é a grama” (Is 40:7).

A razão é aquilo que o ser humano tem de mais natural, distintivo e fácil de usar, enquanto que as ilusões são antinaturais e, por isso mesmo, prejudicam o pensamento e o reto julgamento. As várias reflexões e exortações sobre a morte, feitas pelos estoicos, visam dissipar as ilusões e cultivar as virtudes.

Marco Aurélio é enfático em sua obra Meditações:

“Não conduzas tua vida como se tivesses dez mil anos à frente. A vida é curta e a fatalidade está sempre próxima. Faz o melhor com teu presente. Enquanto vives e podes, seja bom.”

“Que cada ação, cada palavra, cada pensamento teu ocorram quando estiveres consciente de que teus dias podem ter fim a qualquer momento.”

“É função de nossa razão aprender com que rapidez tudo se esvai; como as formas corpóreas são consumidas e a memória parte com as marés dos anos. Assim são todas as coisas, especialmente as que nos seduzem ou apavoram. Ou, ainda, a vaidade que alardeia em nossos ouvidos.” (Carneiro s/d)

“Necessita de pouco, seja gentil e franco; evite o exagero e a conversa fútil. Não vês quantas virtudes podes mostrar, pelas quais não estás incapacitado? O que te conduz é a vontade de reclamar, de te vangloriar dos problemas, de desgraçar teu corpo com teus erros. Não, pelos deuses, deverias estar livre desses vícios há muito tempo. É tua culpa seres lento e estúpido de compreensão […] Vais morrer e, ainda assim, não alcançaste a simplicidade e a calma. Não aprendeste a ser gentil ou a lidar apenas com a sabedoria.”

Chegando-se à contemporaneidade, está havendo, na primeira década do século XXI, um interesse tanto internacional como nacional em se abordar de diferentes maneiras a existência de um “retorno” da Vanitas na arte contemporânea. Este interesse foi mostrado pela realização de exposições e publicações que giravam em torno desta temática, e tentavam mostrar as ligações entre as duas expressões artísticas de épocas distintas. Os responsáveis, senão pela cunhagem, ao menos pela difusão do termo Vanitas contemporânea foram as exposições “Vanitas, Meditations on Life and Death in Contemporary Art”, apresentada, no Museu de Belas Artes da Virgínia nos Estados Unidos, no ano de 2000, e “C’est la Vie! Vanités de Caravagge à Damien Hirst”, ocorrida em 2010, no Museu Maillol em Paris, além da publicação Les Vanités dans l’art Contemporain (2010), dirigida por Anne-Marie Charbonneaux.

Dentre as obras de Les Vanités (...), dos catálogos destas duas mostras, e ainda da exposição Natureza-Morta-Still Life, ocorrida no Brasil em 2004-2005, encontramos as pinturas dos artistas Nigel Cooke e Luis Zerbini (Witeck e Moreira, 2012).

Hans Holbein, o jovem. Os embaixadores (1553) 207X209,5 cm

Em 1533, o artista Hans Holbein levou o Memento Mori um passo adiante. Rico em simbolismo, o seu quadro Os Embaixadores mostra um retrato de dois homens poderosos, Jean de Dinteville e Georges de Selve. No primeiro plano da imagem está um objeto flutuante acinzentado, anteriormente assumido como o osso de um peixe grande. No entanto, mova-se para a direita e a imagem é uma clara representação de um crânio. (Nardelli, 2023).

Em um nível básico, esse crânio pode ser visto como um contraponto à vaidade dos retratados, algo que muitas pessoas da época intencionalmente solicitavam em retratos. “Ele escondeu a referência ao crânio em plena vista”, acreditando que deveria ser visto em relação a um crucifixo de prata “deliberadamente parcialmente oculto” no canto superior esquerdo. Isso atua como um símbolo de esperança e salvação, algo que unia os cristãos da época. “Quando observamos esta pintura, somos tocados pela experiência da mortalidade que chega a todos, pela esperança de salvação e ressurreição final de acordo com a doutrina cristã.” Isso torna o Memento Mori duplamente significativo, fazendo uma referência clara à morte, mas nos lembrando de não temê-la.

Nigel Cooke. Catabolic Vanitas. Óleo sobre tela, (214x153 cm)

Nigel Cooke. Detalhe de Catabolic Vanitas. Óleo sobre tela, (214x153 cm)

Luis Zerbini E aí Brother, 1997. Acrílica sobre tela, 163 x 198 cm. 
Coleção Eduardo Miranda.


Damien Hirst's 'For the Love of God' 
(Damien Hirst)

Damien Hirst

Pingente de marfim, França dos séculos XVI/XVII, Monge e Morte, lembrando a mortalidade e a certeza da morte (Museu de Arte Walters).

Frans Hals, Young Man with a Skull, c. 1626–1628.

Momento mori in the form of a small coffin, 1700s, wax figure on silk in a wooden coffin (Museum Schnütgen, Cologne, Germany).

Máscara tibetana Citipati representando Mahākāla. A máscara de caveira do Citipati é um lembrete da impermanência da vida e do eterno ciclo de vida e morte. (Tcapper1).

Shantideva, no Bodhisattvacaryāvatāra “Modo de Vida do Bodhisattva”
reflete longamente:

A morte não diferencia entre tarefas feitas e não feitas.
Este traidor não merece a confiança dos sãos ou dos doentes,
pois é como um grande e inesperado raio.
BCA 2,33

Meus inimigos não permanecerão, nem meus amigos permanecerão.
Eu não permanecerei. Nada permanecerá.
BC 2:35

O que quer que seja experimentado se desvanecerá (para) em uma memória.
Como uma experiência em um sonho,
tudo o que passou não será visto novamente.
BC 2:36

Dia e noite, a duração da vida diminui incessantemente,
e não há adição a ele. Não devo morrer então?
BC 2:39

Para uma pessoa capturada pelos mensageiros da Morte,
que bom é um parente e que bom é um amigo?
Naquela época, o mérito por si só era uma proteção,
e eu não me apliquei a isso.
BC 2:41

José Guadalupe Posada Aguilar (1852–1913), 1910. La calavera Catrina.
José Guadalupe Posada Aguilar (1852–1913) foi um litógrafo político mexicano que usou a impressão em relevo para produzir ilustrações populares. Seu trabalho influenciou vários artistas e cartunistas latino-americanos por causa de sua agudeza satírica e engajamento social. Ele usou crânios, calaveras e ossos para transmitir críticas políticas e culturais. Entre suas obras mais duradouras está La Calavera Catrina.

Reproduction of the restored Gran calavera eléctrica (Grand electric skull), by Posada 1900-1913


Philippe de Champaigne's Vanitas (c. 1671). Essa Vanitas é reduzida a tres elementos essenciais: Vida, Morte e o Tempo.


Skeleton Pleading (c. 1600s)

Skeleton Praying. Marble floor of the Cornaro Chapel.(c. 1600s)












Dança macabra, (A Dança da Morte)" (gravura de Micheal Wolgemut, xilogravura em Crônica de Nuremberg de Hartmann Schedel, 1493)

Memento mori. Gravestone inscription (1746). Tumulo de James Bailie. Detail. Edinburgh. St. Cuthbert's Churchyard. (Daniel Naczk 1). 

Caveira e Ampulheta por Hendrick Hondius (I), 1626. (etsy)

Alegoria da Morte (1600). Um par de gravuras da Família Collaert (atribuídas a).

Alegoria da Morte (1600). Um par de gravuras da Família Collaert (atribuídas a) detalhe.

A morte vem recolher a beleza IPSA ADEO MORTI VEL FORMOSISSIMA CEDUNT. Emblemata Saecularia, 1596.

Tudo, até a beleza, deve morrer um dia: a morte, em forma de esqueleto, ao lado de uma senhora elegante com uma flor na mão, passeiam por um jardim com pérgula. A morte segura sua ampulheta com a mão direita para ela e a carrega para um abraço com ela.
Gravador Johann Theodor de Brynaar foto de: Crispijn de Pass Editor: Johann Theodor e Johann Israel de Bry Fabricação de Plaats: Frankfurt Data: 1596 Características físicas: carro material: papel Técnica: gravação (processo de impressão) Dimensões: borda da placa: h 103 mm × L 80 mm. Originário de: Emblemata Saecularia. Mira et iucunda varietate seculi huius mores ita Experimentia (...). 1ª edição. Frankfurt am Main: J.T. The Bry e J. I. de Bry, 1596. Assunto: Existência e Modos de Existência (representação emblemática do conceito) Esqueleto da morte representação alegórica da figura humana ou de proporções ideais, figura humana feminina de proporções ideais; Bellezza feminina (Ripa).

Death comes to collect the beauty IPSA ADEO MORTI VEL FORMOSISSIMA CEDUNT. Emblemata Saecularia, 1596.
Everything, even the beauty must die once: the death, in the form of a skeleton, standing next to an elegant lady with a flower in hand, for a garden with pergola. He holds her his hourglass and carries her into an embrace with him.
Manufacturer : printmaker Johann Theodor de Brynaar picture of: Crispijn of Pass Publisher: Johann Theodor and Johann Israel de Bry Plaats manufacture: Frankfurt Date: 1596 Physical features: car material: paper Technique: engraving (printing process) Dimensions: plate edge: h 103 mm × W 80 mm. Originating from: Emblemata Saecularia. Mira et iucunda varietate seculi huius mores ita Experimentia (...). 1st edition. Frankfurt am Main: J.T. The Bry and J. I. de Bry, 1596. Subject: Existence and Modes of Existence (+ emblematical representation of concept) Death axis skeleton allegorical representation of human figure or ideal proportions - female human figure of ideal proportions; Bellezza feminile (Ripa).


MEMENTO MORI & TATOO
















MAIS ALGUNS EXEMPLOS ANTIGOS E CONTEMPORÂNEOS


 
A antiga impressão original foi publicada pela prensa de Philips Galle (Philip).(WP). A tradução do latim:
Mors sceptra ligonibus aequat
Morte, torna cetros e enxadas iguais

Mors vltima linea rerum
Morte o limite final das coisas;

CCXVI. Mors sceptra ligonibus aequat.






Fonte das imagens bocamaldita (2013)

Paula Rego, «Vanitas», 2006. (gulbenkian)

David Bailly (1584-1657), "Vanitas com Retrato de Jovem Pintor", (1651), 65 x 97,5 cm, óleo sobre madeira, Stedelijk Museum De Lakenhal, Leiden. Auto-retrato de um pintor com 67 anos, é um duplo auto-retrato, já que o pintor é, simultaneamente, o jovem sisudo que apresenta o pequeno retrato oval e o cavalheiro envelhecido que aí é representado. Passado e presente. Todo o mundo material escorrega para o nada, só o retrato o pode resgatar, em imagem. "Ao que morre dá [a pintura] vida muitos anos, ficando o seu próprio vulto pintado", fazia Francisco de Holanda dizer a Vittoria Colonna em Da Pintura Antiga (1548).

"Vanitas" de Bartholomaeus Bruyn, o Velho, (1524)

Bernt Notke: Surmatants (Totentanz) da Igreja de São Nicolau, Tallinn, final do século XV (hoje no Museu de Arte da Estônia) (WP)

Simon Renard de Saint-André (1613 – 1677) foi famoso em vida como retratista, entretanto hoje é mais conhecido pelas suas refinadas Vanitas, nas quais instrumentos musicais, flores e crânios ocupam papel central na composição para lembrar a brevidade da vida.

Renan Pollès. Vanitas Americana. Vanitas moderna com ícones da civilização norte-americana: máquina de escrever Underwood, Coca-Cola, ketchup Heins, sopa Campbell, Lucky StriKe, boneca Barbie, Kodak, Donald, Superman, Batman, boneca Barbie, Marilyin Monroe, Dollars, Zippo. Impressão em prata tiragem de 12 exemplares numerados e assinados. 100 cm x 70 cm. (artquid).

Otto Dix, O triunfo da morte, óleo sobre linho. 1934













Fonte

A. P. G. Witeck e A. Moreira. Vanitas na arte contemporânea: um estudo iconográfico de obras de Nigel Cooke e Luis Zerbini. 2012. UFSM/PPGART.
(Visitado em 17/jun/2024)




















VANITAS CONTEMPORÂNEA



Prumo e seu uso






Lidiane Feitosa Pinto e Ângela Fernandes Baia. (s/d). A REPRESENTAÇÃO DA MORTE: DESDE O MEDO DOS POVOS PRIMITIVOS ATÉ A NEGAÇÃO NA ATUALIDADE. 

[Memento is the 2nd person singular active imperative of meminī, "to remember, to bear in mind", usually serving as a warning: "remember!"
Morī is the present infinitive of the deponent verb morior "to die". In other words, "remember death" or "remember that you die"].


A antiga impressão original foi publicada pela prensa de Philips Galle (Philip).
A tradução do latim:

Mors sceptra ligonibus aequat
Morte, torna cetros e enxadas iguais
Death makes sceptres and hoes equal.

Mors vltima linea rerum
Morte o limite final das coisas;
Death, the final boundary of things.

Divitiis flores, et maiorum nobilitate te iactas, et exsultas de pulchritudine corporis et honoribus qui tibi ab hominibus deferuntur. Respice te ipsum, quia mortalis es, et quia terra es, et in terram ibis.

“Você floresce em riqueza e se orgulha da sociedade dos grandes e poderosos; você se alegra com a beleza do corpo e com as honras que os homens lhe prestam. Considere a si mesmo que você é mortal, que você é terra e para a terra você irá.”

“You flourish in wealth, and boast of the society of the great and powerful; you rejoice in the beauty of the body and the honours which men pay to you. Consider yourself, that you are mortal, that you are earth, and into the earth you shall go.”

I first saw the print, in the book ‘Death: A Picture Album’. Assembled by Richard Harris, and the Welcome Collection, 2012. The book includes rare prints,historical artifacts, postcards, vanitas, and a range of contemporary art works all presented together. Divided into 5 sections, the book talks about Commemoration, The Dance of Death, Contemplating Death, Violent Death and Love and Death. (8art8).


VANITAS VANITATUM

All the flowers of the spring
Meet to perfume our burying;
These have but their growing prime,
And man does flourish but his time:
Survey our progress from our birth;
We are set, we grow, we turn to earth.
Courts adieu, and all delights,
All bewitching appetites!
Sweetest breath and clearest eye,
Like perfumes, go out and die;
And consequently this is done
As shadows wait upon the sun.
Vain ambition of kings
Who seek by trophies and dead things
To leave a living name behind,
And weave but nets to catch the wind.

John Webster (1580?-1635?), The Devil's Law-Case, 1623





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