sexta-feira, 15 de agosto de 2025

TINTAS E PIGMENTOS PARA ARTE

TINTAS PARA GRAVURA: XILOGRAVURA


A xilogravura é uma das técnicas de impressão mais antigas do mundo, consistindo na gravação de imagens em uma matriz de madeira, que depois é entintada e pressionada sobre papel ou tecido. Sua história atravessa culturas e séculos, desde usos religiosos até a arte contemporânea.  

1. Origens e Surgimento  

China (Século VI – Antes de Cristo)  
- A xilogravura surgiu na China, onde era usada para imprimir padrões em tecidos e, posteriormente, textos e imagens.  
- O livro mais antigo impresso com essa técnica é o "Sutra do Diamante" (868 d.C.), descoberto na Caverna de Dunhuang.  

Japão (Século VIII em diante) 
- No Japão, a técnica foi refinada e associada à produção de ukiyo-e (gravuras de artistas como Hokusai e Hiroshige) durante o período Edo (séculos XVII–XIX).  

Europa (Século XIV – Renascimento)
- A xilogravura chegou à Europa por meio do comércio com o Oriente e foi usada inicialmente para iluminuras religiosas e cartas de baralho.  
- No século XV, serviu para ilustrar livros impressos (como a Bíblia de Gutenberg) antes da popularização da gravura em metal.  
- Artistas como Albrecht Dürer elevaram a técnica a um nível artístico, criando obras-primas como "O Apocalipse" (1498).  

2. Uso Tradicional e Cultural  

Brasil (Séculos XIX–XX) 
- No Nordeste brasileiro, a xilogravura tornou-se popular através da literatura de cordel, onde ilustrava capas de folhetos.  
- Artistas como J. Borges e Gilvan Samico transformaram a técnica em uma expressão artística reconhecida internacionalmente.  

América Latina e África 
- No México, foi usada em movimentos políticos, como nas gravuras revolucionárias de José Guadalupe Posada.  
- Em países africanos, a técnica foi adaptada para contar histórias locais e tradições orais.  

3. A Xilogravura na Atualidade  

Arte Contemporânea  
- Artistas como Franz Masereel (Bélgica) e Milton Dacosta (Brasil) usaram a xilogravura para criar obras expressionistas e abstratas.  
- Hoje, é valorizada por seu caráter artesanal e estética única, sendo explorada em exposições e bienais.  

Ilustração e Design  
- A técnica é usada em ilustrações editoriais, capas de livros e até em tatuagens (estilo "woodcut").  
- Designers digitais simulam seu visual em softwares como Photoshop, mantendo sua essência rústica.  

Preservação Cultural  
- No Brasil, festivais como o "Gravura Popular" (PE) e oficinas mantêm viva a tradição, especialmente no cariri cearense e no sertão nordestino.  

A xilogravura é uma ponte entre o passado e o presente, desde seus primórdios na Ásia até seu uso inovador na arte moderna. Seja como ferramenta de comunicação, expressão cultural ou linguagem artística, ela continua a inspirar gerações, provando que técnicas ancestrais ainda têm espaço no mundo contemporâneo.  

Fontes Consultadas
  
- "A History of Woodcut". Arthur M. Hind.  
- "Xilogravura: A Arte do Povo". Lira Neto. 
- "The Complete Woodblock Print". Ayomi Yoshida.  
- Acervos do Museu da Xilogravura. Cordel – Brasil; e Museu do Ukiyo-e (Japão).


TINTAS

Com toda essa rica história e sua duração no tempo, a xilogravura permanece sendo uma técnica de impressão que utiliza matrizes de madeira entalhadas, entintadas com um fino filme de tinta. A tinta adequada é essencial para obter bons resultados. 
Aqui estão algumas receitas caseiras de tinta para xilogravura, baseadas em fontes tradicionais e técnicas artesanais.


1. Tinta à Base de Óleo (Tinta Gráfica Tradicional)

Ingredientes

- Pigmento em pó (preto de fumo, terra natural, óxidos etc.)
- Óleo de linhaça ou óleo vegetal refinado
- Secante de cobalto (opcional, para acelerar a secagem)

Preparo

1. Misture o pigmento em pó com uma pequena quantidade de óleo de linhaça até formar uma pasta espessa.
2. Adicione óleo aos poucos até atingir a consistência desejada (nem muito líquida, nem muito pastosa).
3. Para melhor aderência, passe a tinta em um moinho de vidro ou use uma espátula para misturar bem.
4. Se necessário, adicione um pouco de secante de cobalto (2-3% do volume) para acelerar a secagem.

Fonte: Técnicas tradicionais de gravura, como descritas em "The Complete Printmaker" (John Ross, Clare Romano, Tim Ross).


2. Tinta à Base de Cera (Caseira e Econômica)

Ingredientes

- Cera de abelha ou parafina
- Óleo de soja ou óleo de cozinha
- Pigmento em pó (ex.: carvão moído)

Preparo

1. Derreta a cera em banho-maria.
2. Adicione óleo aos poucos até obter uma mistura homogênea.
3. Incorpore o pigmento e mexa bem até ficar uniforme.
4. Deixe esfriar e ajuste a consistência (se ficar muito dura, aqueça e adicione mais óleo).

Observação: Essa tinta é mais rústica e seca rápido, ideal para impressões experimentais.

Fonte: Adaptação de receitas artesanais de "Making Art Safely" (Merle Spandorfer et al.).


3. Tinta à Base de Guache ou Têmpera (Alternativa Aquosa)

Ingredientes

- Guache ou tinta acrílica
- Goma arábica ou mel (para dar liga)
- Água (para ajustar a viscosidade)

Preparo

1. Misture o guache com uma pequena quantidade de goma arábica ou mel para melhor aderência.
2. Dilua com água se necessário, mas mantenha a tinta cremosa.
3. Teste em papel absorvente antes de usar na matriz.

Vantagem: Secagem rápida e fácil limpeza, mas pode não ter a mesma durabilidade que tintas à base de óleo.

Fonte: Técnicas adaptadas de "Non-Toxic Printmaking" (Mark Graver).


4. Tinta de Terra (Natural e Artesanal)

Ingredientes

- Terra ou argila seca (peneirada)
- Óleo de linhaça ou cola à base de água
- Água (se necessário)

Preparo

1. Peneire a terra para remover impurezas.
2. Misture com óleo ou cola até formar uma pasta homogênea.
3. Para versões aquosas, adicione água e uma pitada de sal (como conservante).

Fonte: Técnicas ancestrais descritas em *"The Natural Way to Draw"* (Kimon Nicolaïdes).

TINTA A BASE D'ÁGUA

As tintas à base de água encontradas no mercado são muito práticas, principalmente por serem de fácil limpeza (com uma bucha e água corrente, ou com álcool se limpa tudo). A escolha por essa tinta também se dá por seu odor suave (semelhante ao guache), o que a torna prática para o uso em ambientes domésticos. No Brasil são vendidas as marcas Speedball, Lukas e Talens, de qualidades diversas: as duas primeiras têm aspecto mais líquido e a terceira é mais concentrada (exigindo o uso conjunto de glicerina líquida). 

As desvantagens desse tipo de tinta são: 
1. ela seca muito rápido (causando desperdício e exigindo um trabalho mais ágil); 2. alguns pigmentos coloridos desbotam; 
3. Ela não permite o uso de transparências (é sempre opaca). Elas são boas opções para quem está experimentando a técnica.

As tintas gráficas, à base de óleo são em geral mais indicadas para quem quer trabalhar com xilogravura mais à fundo. O resultado da impressão com essas tintas é muito mais rico em termos de tons, cores e transparências, além de possibilitar uma maior captação dos detalhes da gravação e dos veios da madeira. Essas tintas possuem odor um pouco mais forte do que as tintas à base de água, e para limpá-las é preciso usar solventes, como aguarraz ou thinner, por isso é recomendável usar esse tipo de tinta em espaços bem ventilados. Uma boa dica é usar uma mistura de óleo de cozinha e detergente para limpar a tinta das mãos. Também encontramos solventes de odor mais suave, como o Cromossolv, da marca Cromos. 

Tintas das marca SakuraSpeedballLukas e Talens, já testei e todas são muito boas e recomendáveis. 
A Cromos vende latas de 2kg, que duram muito quando bem conservadas (a tampa deve estar bem fechada e não se deve retirar o papel que a protege). 

Já experimentei usar a tinta base transparente para produzir tintas coloridas e o resultado foi bastante satisfatório. Para isso, deve-se acrescentar Carbonato de Cálcio (que dá opacidade à tinta) e o pigmento diluído em aguarraz.

Para quem tem interesse pelo preparo de tintas, desenvolvemos uma tinta alternativa à base de água, de baixo custo, e que pode ser usada em ambientes escolares. 

Para prepará-la é necessário: 

2 colheres de Goma Arábica (aglutinante); 
3 gotas de Glicerina (umidificante); 
1/2 colher de Carbonato de Cálcio ou Talco (que dá consistência e opacidade) e pigmento de qualquer cor, a gosto. 

É possível usar pigmento líquido ou em pó (que deve ser diluído em álcool). Basta misturar tudo, testando as quantidades de cada ingrediente para que fique com um aspecto pegajoso. Se a tinta estiver secando muito rápido, acrescente uma gota de glicerina.


Fonte




Dicas Gerais

- Teste sempre em pequenas quantidades antes de aplicar na matriz.
- Consistência ideal: A tinta deve cobrir o relevo da madeira sem escorrer.
- Limpeza: Use óleo vegetal para tintas gordurosas e água para aquosas.

Essas receitas permitem explorar a xilogravura com materiais acessíveis, adaptando-se a diferentes estéticas e recursos. Boas impressões!

Fontes consultadas

- Ross, J., Romano, C., & Ross, T. The Complete Printmaker.
- Spandorfer, M. et al. Making Art Safely.
- Graver, M. Non-Toxic Printmaking.
- Nicolaïdes, K. The Natural Way to Draw.




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